Bolsonaro faz seu eleitor de trouxa ao retirar o Coaf de Moro. Por Mauro Donato

Atualizado em 29 de maio de 2019 às 11:45
Jair Bolsonaro. Foto: Reprodução

Apoiadores e seguidores do governo Jair Bolsonaro mal haviam retornado para suas casas após saírem às ruas para exigir, entre outras coisas, que o Coaf ficasse sob o ministério de Sergio Moro enquanto o presidente já preparava uma carta traidora.

“Solicito que as senhoras e os senhores senadores aprovem a medida provisória 870 conforme o texto recebido da Câmara dos Deputados”, foi o que escreveu e assinou embaixo o Messias dos minions.

O texto vindo da Câmara dos Deputados devolve o Coaf (Conselho de Controle de Atividades Financeiras) para o ministério da Economia.

Aquele Moro gigante, inflado no corpo de um Superman apresentado em Brasília, murchou.

Moro inflado. Foto: Reprodução/Folha

Vários congressistas do centrão haviam se convencido de que o melhor a fazer era votar alinhado com Bolsonaro e Moro, contrariando a Câmara. Foram obrigados a mudar o voto novamente de última hora.

Senadores até então verborrágicos e histéricos mudaram o discurso e obedeceram Bolsonaro. Como Major Olímpio, que no domingo estava na avenida Paulista ameaçador, declarando: “O STF que nos aguarde”.

O Major e todos aqueles bolsonaristas vestidos com camiseta da CBF precisaram engolir menos de 48 horas depois um Bolsonaro sorridente ao lado de Dias Toffoli e Rodrigo Maia tratando de um certo “terceiro pacto republicano”.

Na noite de ontem, o Senado derrotou a tal voz das ruas atendendo pedido do mesmo Jair. Entendeu?

No domingo, o presidente começou o dia disparando tuítes conclamando as manifestações contra as “velhas práticas” e incitando (é com ‘C’ viu, Abraham?) sua claque contra o STF. De noite, estava em entrevista na TV Record defendendo o pacto.

O eleitor de Bolsonaro é afeito a ser tratado como trouxa. Misto de desinformado com hipócrita, ele votou em uma turma irmanada com as milícias para combater a criminalidade. Votou em um deputado que há 28 anos faz parte do baixo clero e das “velhas práticas” como se um outsider fosse. Votou num camarada que enriqueceu usufruindo de todas as mamatas concedidas – e as não concedidas também – para combater a corrupção.

O eleitor de Bolsonaro bate palmas para dono de puteiro que discursa embalado por uma faixa em favor do conservadorismo. Coerência passa longe.

Sair às ruas em defesa do governo e tomar uma bola nas costas logo em seguida deveria ser motivo para colocá-los todos nas ruas novamente, com o polo invertido.

Só que não.

Provavelmente alguma corrente de whatsapp repleta de inverdades plantada por Carluxo deve ter amenizado o mal estar e agora estão todos em casa postando respostas para as fotos falsas publicadas no domingo que ressuscitaram até quem já não está mais na avenida da vida. Pobre dona Maria Nina Rattes.

“Palavra que vem do Planalto não vale um real”, já é o que mais se ouve pelos corredores do congresso. Muitos deputados e senadores já não suportam mais o morde-e-assopra de Bolsonaro e estão céticos quanto a toda e qualquer decisão desse governo errático e tumultuado.

A desconfiança é de que Jair Bolsonaro possa começar a governar por decretos e desfazer até mesmo o que combinou com seus aliados. Moro sabe bem o que é isso.

Bolsonaro com seus trajes mal-ajambrados, o olhar abestalhado e semblante de perturbação psicológica grave, não deveria enganar ninguém. Quem souber como ele consegue, agradeço a explicação.

A velhinha que morreu em 2018 na mensagem de Bolsonaro comemorando protestos de 2019. Foto: Reprodução