Bolsonaro foi para o golpismo aberto e as instituições democráticas precisam cassá-lo. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 19 de abril de 2020 às 15:02

As manifestações de hoje em frente a quartéis pediram, escancaradamente, a adoção de um novo AI-5, o ato que marcou o início da fase mais dura da ditadura militar.

Tudo indica que seja uma ação organizada, com uma voz central de comando.

Ao mesmo tempo em que ocorriam as manifestações, Eduardo Bolsonaro postou uma foto dele e dos irmãos Flávio e Carlos com o pai, e escreveu:

— Reunião no QG com Jair Bolsonaro, Flávio Bolsonaro e Carlos Bolsonaro.

Ele não informa o endereço, mas pelas mobília vê-se que não é o Palácio do Alvorada, residência oficial da Presidência da República.  Nem o QG do Exército.

A foto, tirada por um terceiro, mostra a mesa sem toalha, milho verde e, na parede, um fuzil Parafal 7,62 milímetros com balas emoldurados, um quadro com a  frase “Old school reaça” e dois símbolos americanos.

Um deles é o quadro com as cores da Bandeira dos Estados Unidos e o ano que é considerado como o marco da nação estrangeira: 1776. O outro é uma cabeça de boi com as cores dos EUA e uma estrela no que já foi a testa de um animal.

O QG do bolsonarismo pode ser a residência de Eduardo Bolsonaro em Brasília.

O deputado federal foi quem cogitou a adoção de um novo AI-5 em entrevista a Leda Nagle, transmitida pelo YouTube, em outubro do ano passado.

Pela fala, foi denunciado ao Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, já que se trata da apologia da ditadura e, portanto, ataque ao estado democrático de direito, definido pela Constituição Federal.

Até agora, o Conselho não analisou a denúncia.

Ao falar de QG da família Bolsonaro no dia em que bolsonaristas pressionam por um novo AI-5, em frente a quartéis, Eduardo Bolsonaro sinaliza conexão entre os dois episódios – a reunião do clã e as manifestações.

Pouco depois da postagem de Eduardo Bolsonaro, Jair foi ao Quartel do Exército em Brasília e discursou do lado de fora, como fazia no início de sua carreira política e atiçava os praças contra seus superiores.

“Eu estou aqui porque acredito em vocês. Vocês estão aqui porque acreditam no Brasil”, afirmou. “Nós não queremos negociar nada. Nós queremos é ação pelo Brasil”, acrescentou.

De onde Bolsonaro discursou, em cima de um carro, era possível ver as faixas “Intervenção militar” e cartazes pregando o AI-5 fixadas em automóveis.

Quando chegou, os manifestantes — que estavam aglomerados e não passavam de mil — gritavam: “AI-5, AI-5, AI-5!”

Se Bolsonaro disse que acredita nos manifestantes, ele está endossando suas reivindicações e uma delas, a mais expressiva, era a decretação do ato institucional.

Bolsonaro foi para o golpismo abertamente.

Se a classe política, juntamente com as instituições do estado — que incluem o Congresso, o STF, a Procuradoria da República e até o Exército  —, não se posicionarem, Bolsonaro destruirá o que foi construído com o sangue, dor, lágrimas e luta de muitos brasileiros. Ou seja, a democracia.

Não há tempo a perder, democratas. Eduardo, por defender o AI-5, já deveria ter sido cassado. Agora não é mais Eduardo o maior problema.

É Bolsonaro, e ele tem que sair da Presidência da República. 

Para aqueles que são medrosos, observe-se que o número de manifestantes era relativamente pequeno. E vejam as pesquisas: a maioria reprova Bolsonaro.

Ação, senhores!

A história ensina: Bolsonaro escancarou sua personalidade de Hitler.

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Abaixo, o discurso que justifica o impeachment de Bolsonaro ou até a sua denúncia criminal perante o STF: