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Por Luis Felipe Miguel
Ontem, a manchete da Folha foi “Bolsonaro insufla protestos; governadores pedem diálogo”.
A de hoje é “Bolsonaro é instruído a ignorar reunião com governadores”.
Qual é o grau de ingenuidade política que leva alguém a pensar que um “diálogo” com Bolsonaro fornecerá soluções para a crise?
A estratégia dele é transparente. Sabe que suas chances seguindo as regras do jogo são cada vez mais diminutas.
A produção do caos, por outro lado, permite sonhar com resultados inesperados. Um deles, quem sabe, pode beneficiá-lo.
Secundam Bolsonaro em todas as suas ações, mas não vão apoiar uma tentativa de golpe.
Comungam das mesmas ideias, mas não vão apoiar uma tentativa de golpe.
Alinham-se às teorias conspiratórias, mas não vão apoiar uma tentativa de golpe.
Sentem-se tentados a vetar uma vitória eleitoral do namorado de Janja, mas não vão apoiar uma tentativa de golpe.
É a nova versão do “não vai ter golpe” – que, como todos sabemos, não impediu que a democracia fosse derrotada em 2016.
Mas uma versão muito piorada, diga-se de passagem.
O “não vai ter golpe” de 2016 voltava-se a estimular nossa ação.
Estava implícito: se nós nos mobilizarmos, não vai ter golpe.
Já o novo “não vai ter golpe” aponta para a inação.
É tipo “fiquemos tranquilos, as Forças Armadas são nossas amiguinhas, não vai ter golpe”.
Nada garante que seja assim. E as condições para um golpe de sucesso não são dadas, são construídas.
É o que Bolsonaro está fazendo, à sua maneira: construindo as condições para o golpe.
As Forças Armadas nem precisam estar à frente.
Podem ser colocadas diante de situações de fato, puxadas por polícias militares que hoje formam o setor mais vocal do bolsonarismo.
O bolsonarismo já deixou claro que deseja ir além dos passeios de moto.
As manifestações têm o objetivo de agredir e intimidar.
A resposta a elas é crucial. Se não punirem, com rapidez e severidade, perpetradores e (sobretudo) mandantes, as instituições passarão novamente o recado de que o caminho da preparação do golpe está livre.
Alexandre de Moraes, nos casos de Roberto Jefferson e Sérgio Reis, e João Doria, em relação ao coronel Lacerda, agiram na direção correta.
Mas ainda é muito insuficiente.
É necessário chegar em Bolsonaro.
Ele não liga para quantos pretensos “mártires” do fascismo surgirem – são até úteis para a agitação de sua base.
Bolsonaro é quem tem que ficar com medo e sentir que suas palavras e ações terão consequência.
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