Bolsonaro não consegue criar seu partido. E nenhum partido quer Bolsonaro. Por Moisés Mendes

Atualizado em 31 de maio de 2021 às 22:38
Aliança pelo Brasil, partido que Jair Bolsonaro tenta criar Foto: Reprodução

Publicado originalmente no Blog do Autor:

Levy Fidelix, que morreu há um mês, tinha partido, o PRTB de Hamilton Mourão. José Maria Eymael tem partido, o PDC. O Brasil tem 33 partidos.

Mas Bolsonaro não tem partido e nenhum partido quer Bolsonaro. O Aliança pelo Brasil, que seria o partido da família, está em criação desde 21 de novembro de 2019. Mas ninguém quer saber do partido da família Bolsonaro.

Se fosse um produto à venda nas prateleiras, o partido da família Bolsonaro seria o maior fracasso brasileiro do século 21 e estaria embolorado num canto.

O eleitor não quer saber do partido de Bolsonaro porque Bolsonaro não pode querer sair da condição de gambiarra para a de líder de um projeto político. Mesmo que seja uma farsa. Bolsonaro será sempre uma gambiarra.

O sujeito participou à distância das eleições municipais do ano passado sem partido. Nunca antes um presidente acompanhou uma eleição sem ter partido.

Bolsonaro manda num governo que não tem partido, não tem base política (o apoio é alugado e bem pago ao Centrão) e não tem a fidelidade incondicional dos militares.

O senador Flavio Bolsonaro foi eleito em 2018 pelo PSL, passou para o Republicanos e agora vai se filiar ao Patriota.

O deputado federal Eduardo Bolsonaro ainda pertence ao PSL, partido do qual o pai se desligou por não conseguir controlar o bolão do fundo partidário, quando brigou com Gustavo Bebianno, que morreu meses depois.

O vereador Carlos Bolsonaro foi eleito pelo PSC em 2016 e passou para o Republicanos de Flávio, mas não sabe ainda se vai ficar no partido, sendo possível que também deixe o Republicanos para se filiar ao Patriota.

Bolsonaro também quer ir logo para o Patriota. Mas não será fácil, porque os líderes do Patriota não querem todos os Bolsonaros se adonando do partido. É uma briga por poder e dinheiro.

A família toda era do PSC, até Bolsonaro ficar sem partido e se bandear para o PSL e depois entrar em conflito com os que o chamaram para concorrer em 2018.

Ninguém na família sabe ao certo o partido de cada um. E a família não consegue ter um partido só dela, com a gestão absoluta do fundo partidário e dos que se dispuserem a ficar no entorno sem incomodar.

Mas os Bolsonaros fracassam como donos de partido. Para que o Aliança fosse registrado, eles precisavam de 492 mil assinaturas de adesão. Conseguiram menos de 50 mil. O Aliança tem assinaturas de gente que não existe e até de mortos.

Dizem que os mortos não estão na lista de filiação por fraude. São mortos mesmo. Gente que morreu esperando, desde novembro de 2019, por um partido que não vinga.

Mas, mesmo assim, tem gente achando que Bolsonaro, o sujeito que não consegue ter um partido, ainda pode se reeleger. Ninguém confia em Bolsonaro o suficiente para se engajar a um partido dele e dos filhos.

Mas a imprensa fica dizendo que Bolsonaro ainda tem força. Ele já andou por oito partidos e não consegue realizar seu grande projeto. Mas acham que ele irá em frente.

Na defesa que apresentou ao Ministério do Exército, por ter participado da festa com motoqueiros ao lado de Bolsonaro, no Rio, o ex-ministro Eduardo Pazuello disse que não fez nada de errado.

Pazuello argumentou que as normas do Exército proíbem os militares de participar de manifestações político-partidárias.

Mas Bolsonaro, disse Pazuello, nem partido tem. É uma realidade que pode salvar Pazuello e acabar com Bolsonaro.