Bolsonaro não deve crescer e o golpe continua em movimento. Por Luís Felipe Miguel

Atualizado em 9 de setembro de 2018 às 22:04
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Publicado originalmente no perfil do Facebook do autor

POR LUIS FELIPE MIGUEL, professor da UnB

Baixada a poeira inicial, é possível alinhavar algumas ideias:

(1) As próximas pesquisas talvez mostrem alguma marola de simpatia pela vítima, mas dificilmente Bozo ganhará tantos votos com a facada. Alguns analistas dizem que o episódio servirá para (sem trocadilho) estancar a sangria no seu eleitorado, mas, francamente, eu nem sei se esta sangria algum dia existiu. A constrangedora foto do hospitalizado brincando de arminha revela que, por burrice ou por cálculo, sua campanha decidiu manter o perfil brucutu, que segura sua base, mas não a amplia.

(2) O apoio da mídia corporativa, Globo à frente, parece ter chegado muito tarde para gerar uma onda Bozo. Ainda mais com o candidato e sua entourage (prole, Bebbiano, Mourão, Augusto Heleno) resistindo à suavização da imagem.

(3) Alckmin fica numa situação difícil, tendo que manter seu discurso de “eu sou a paz” sem poder bater de frente no ex-capitão. Vi gente elogiando, mas achei o programa dele ontem na TV muito fraco, incapaz de acertar o tom e derrapando feio na deslocada exploração do caso Sílvio Santos. Até o momento, o saldo para Alckmin parece ser negativo, com seus apoiadores formais oferecendo acenos mais explícitos na direção de seu principal competidor no campo da direita (vide a declaração de Doria).

(4) O que torna a situação do tucano particularmente dramática é que, como seus estrategistas de campanha já tinham percebido, suas chances de crescimento estão à direita. O eventual eleitor desgarrado do lulismo dificilmente chegará a Alckmin; é mais fácil que fique com Ciro ou Marina. Sem abocanhar uma parte do rebanho do Bozo, suas chances são muito pequenas.

(5) A tentativa de grudar na esquerda a responsabilidade do ataque só funciona em quem já estava predisposto a acreditar nisso. Para o PT, talvez o principal efeito negativo seja desviar o foco das atenções no momento em que é crucial estabelecer a identidade entre Lula e Haddad. Novamente muito bem produzido, o programa de ontem à noite foi, não sei o quão intencionalmente, um contraponto ao discurso de Alckmin, apresentando uma percepção de “paz social” que vai além do combate à violência aberta – 100% fiel ao lulismo raiz, com todos os limites e contradições aí presentes.

(6) Barrada a candidatura de Lula, a meta da justiça eleitoral agora é atrapalhar a transferência de votos para Haddad. Suas intervenções censórias buscam impedir não os discursos mentirosos e manipulativos, que campeiam no rádio e na TV, mas que a propaganda reflita uma verdade factual: que Haddad é o candidato que Lula escolheu para substituí-lo quando percebeu que sua própria candidatura seria vetada. É mais uma demonstração de que o golpe continua em movimento, o que lança sombras não só para a continuidade do processo eleitoral em curso, cuja legitimidade já foi ferida de morte com o impedimento da candidatura de Lula, mas também para o próximo mandato, seja quem for o eleito.