Bolsonaro não mudará estratégia por crescimento de rejeição. Por Fernando Brito

Atualizado em 2 de setembro de 2019 às 11:41
Jair Bolsonaro. Foto: ludovic MARIN / AFP

PUBLICADO NO TIJOLAÇO

POR FERNANDO BRITO

Como era expectativa geral, os números do Datafolha, divulgados hoje, vieram em sintonia com as duas pesquisas publicadas na semana passada – a CNT/MDA e a Vox Populi.

Os índices de 39,5, 40 e 38% de reprovação, estatisticamente, são iguais e se parecem baixos para alguns do opositores de Jair Bolsonaro, são significativamente altos para um governo que apenas se inicia, depois de ter sido eleito com margem expressiva no segundo turno.

Não são, porém, ainda uma grande dor de cabeça para o ex-capitão, de manter sólido seu núcleo de apoio incondicional. Como ilustração, apenas, lembremos que na corrida presidencial, há um ano exato, Bolsonaro aparecia com 22% a intenções de voto.

Bastava então – e ele julga que basta agora – para inviabilizar o surgimento de qualquer outro candidato no campo da direita, o que segue sendo, ao que parece, seu objetivo político eleitoral.

Creio que a “advertência” da pesquisa identificada pelos dirigentes do Datafolha – “a estratégia contém o risco de reduzir ainda mais sua pregação apenas para convertidos, acentuando o que já ocorre nas redes sociais” – exatamente o que Bolsonaro considera ser seu “ponto forte”: manter um grau de adesão irracional e fanatizada e contar com o impasse que isso gera para outras forças políticas, que acabariam atreladas a ele por sua recusa em alianças à esquerda.

Ou não aconteceu isso há apenas 10 meses, quando apoiaram, por ação e omissão, Bolsonaro como um “mal menor” contra Fernando Haddad?

Reparem como Bolsonaro, mesmo tendo chegado ao governo quase três anos depois da derrubada do governo Dilma, praticamente só dedica ao PT suas comparações, críticas e até xingamentos.

Portanto, não vejo sinais de que o atual presidente tome estes números como conselhos à moderação e até mesmo a uma maior civilidade em seu comportamento e declarações.

Não é pouco, ao contrário ter chegado a ser presidente da República, ter submetido de forma humilhante militares, parlamentares e o Judiciário e ainda ostentar entre um quarto e um terço de aprovação ao um governo que não tirou o país do pântano econômico, que retirou direitos trabalhistas e previdenciários e que tem a sensibilidade de um paquiderme nas questões sociais, ambientais, diplomáticas, educacionais e por onde mais se observe.

Do ponto de vista do ex-capitão, convenhamos, ele tem mais do que seria, depois de tudo, racionalmente esperável.

O único ponto, este sim, que pode lhe ser alarmante é que deixou derreter depressa a gordura que tem a queimar, no últimos dois meses. Por enquanto, porém, não perdeu sua massa muscular.