Bolsonaro, o gesto da arma na Marcha para Jesus e a risada cafajeste dos pastores. Por Daniel Trevisan

Atualizado em 22 de junho de 2019 às 16:14
Os pastores riram gostosamente

Há muito pouco a escrever a respeito do gesto que Jair Bolsonaro fez durante a Marcha para Jesus, em São Paulo. Ele simulou executar alguém caído, e essa imagem diz tudo. Não há nada mais anticristão: atirar em alguém caído.

Mas, ao se observarem detalhes dessa cena com mais atenção, vai se perceber que a igreja evangélica presente nesse evento emite outros sinais de que se transformou em qualquer coisa menos portadora do que se entende por mensagem do evangelho.

E não se está falando da logomarca da Marcha, que parece um pênis dourado sendo masturbado. Não é isso, ao contrário do que notaram internautas na rede social que pensam que evangélicos não têm desejo sexual e o imaginam como seres angelicais.

Ou pelo menos exigem que assim pareçam. A imagem do pênis dourado está na cabeça de quem vê ou, vá lá, parece mesmo, mas foi só o descuido do desenhista, e dos pastores que aprovaram a imagem. Não viram direito.

O que chama a atenção na foto é o sorriso de cafajeste que os líderes na igreja dão quando Bolsonaro simula matar alguém. Bispa Sônia tinha acabado de repetir o slogan da campanha “Brasil acima de tudo, Deus acima de todos” e destacava qualidades que ele diz enxergar no convidado de honra:

“Pela primeira vez na presidência do Brasil, a família foi honrada, o presidente subiu ao palanque com a sua esposa e deu voz à sua esposa”.

Já ninguém ouvia a bispa. Todos riam um sorriso largo, gostoso, com Bolsonaro, todos eles vestindo camisa Lacoste, bem diferente da marca da camiseta que o crente usava lá embaixo.

Assim é a liderança, assim é o rebanho. Rebanho pobre ou remediado, pastores milionários.

Seus líderes, que conhecem o texto bíblico, certamente, não acreditam no que leem, pois devem saber o que Pedro escreveu, dois mil anos atrás:

Muitos seguirão seus falsos ensinos e práticas libertinas, e por causa dessas pessoas, haverá difamação contra o Caminho da Verdade. Movidos por sórdida ganância, tais mestres os explorarão com suas lendas e artimanhas. Todavia, sua condenação desde há muito tempo paira sobre eles, e sua destruição já está em processo. 

Ao serem confrontados por textos assim, os líderes devem rir bastante. Do contrário, teriam se escandalizados com a mensagem de violência implícita no gesto de Bolsonaro, o presidente que, gostosamente, ajudaram a eleger e a quem apoiam, também gostosamente.