Bolsonaro passa por cirurgia de hérnia inguinal bilateral; entenda o procedimento

Atualizado em 24 de dezembro de 2025 às 10:25
O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no hospital DF Star, em Brasília. Foto: Reprodução

O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) será submetido na quinta-feira (25) a uma cirurgia eletiva para correção de uma hérnia inguinal bilateral, após ser internado nesta quarta-feira (24), véspera de Natal.

A realização do procedimento foi autorizada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), com base em avaliação médica da Polícia Federal (PF), que indicou a necessidade da correção cirúrgica para evitar piora do quadro, sem caracterizar urgência ou emergência.

O acesso ao quarto do ex-capitão será rigidamente controlado. Está proibida a entrada de celulares, computadores ou qualquer dispositivo eletrônico, exceto equipamentos médicos indispensáveis ao tratamento. A fiscalização do cumprimento da regra caberá exclusivamente à Polícia Federal.

No plano pessoal, a decisão autoriza apenas a presença da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro como acompanhante durante toda a internação, respeitadas as normas do hospital. Qualquer outra visita, inclusive de familiares do ex-presidente, dependerá de autorização judicial específica. O pedido da defesa para permitir visitas frequentes dos filhos Flávio e Carlos Bolsonaro foi negado.

Michelle e Jair Bolsonaro na Superintendência da Polícia Federal em Brasília. Foto: Folhapress

O que é a hérnia inguinal bilateral

A hérnia inguinal ocorre quando tecidos do abdômen atravessam um ponto enfraquecido da parede muscular na região da virilha, formando um abaulamento visível. Quando esse deslocamento acontece dos dois lados do corpo, a condição é classificada como bilateral.

Os sintomas mais comuns incluem dor, inchaço e desconforto, sobretudo ao realizar esforço físico, tossir ou permanecer em pé por longos períodos, embora haja casos sem manifestações clínicas relevantes.

Como a parede abdominal perde resistência

“O que, exatamente, é uma hérnia? É um defeito na parede abdominal. Esse defeito pode existir desde o nascimento, em pessoas que já têm uma fraqueza natural na região, ou pode surgir ao longo da vida, especialmente depois de uma cirurgia abdominal, principalmente quando feita às pressas, em caráter de urgência”, explica ao G1 Pedro Bertevello, cirurgião do aparelho digestivo da BP.

Segundo especialistas, a parede abdominal é formada por várias camadas de proteção, incluindo músculos e uma estrutura rígida chamada aponeurose. Intervenções cirúrgicas anteriores podem gerar cicatrizes internas, conhecidas como aderências, que alteram essa anatomia e reduzem a resistência dos tecidos, criando brechas por onde o intestino pode se projetar.

Encarceramento intestinal e efeitos das aderências

Quando o intestino ultrapassa esse ponto enfraquecido, ele pode ficar preso fora da cavidade abdominal, situação chamada de encarceramento. Na hérnia inguinal, essa projeção ocorre na região da virilha e pode avançar em direção ao escroto.

Em pacientes com histórico de múltiplas cirurgias, como no caso do ex-presidente, a presença de fibroses e aderências torna o abdômen mais rígido e irregular, favorecendo o surgimento dessas alterações.

Quais cirurgias podem ser utilizadas

A correção da hérnia pode ser realizada por videolaparoscopia ou por cirurgia aberta. Na abordagem minimamente invasiva, o cirurgião utiliza uma câmera para liberar aderências internas, reposicionar o intestino e reforçar a aponeurose com uma tela de malha.

Já a cirurgia aberta, indicada em quadros mais complexos, permite a liberação manual das alças intestinais e o reforço direto da musculatura, com ou sem uso de tela.

“Quando o abdômen nunca foi operado, o paciente pode ser tratado tanto por videolaparoscopia quanto por cirurgia convencional. (…) É uma cirurgia relativamente simples: o paciente interna um dia, opera e, geralmente, recebe alta no dia seguinte. Depois, cumpre uma semana de repouso relativo e cerca de 30 dias sem fazer força ou carregar peso”, afirma Pedro Bertevello.

Avaliação dos soluços persistentes

Os peritos também analisaram os episódios de soluços persistentes relatados por Bolsonaro e indicaram o bloqueio do nervo frênico como medida tecnicamente adequada, a ser realizada o quanto antes.

O procedimento reduz temporariamente a atividade do nervo responsável pelo controle do diafragma, é feito com anestesia local e guiado por ultrassom, sendo indicado apenas quando os tratamentos convencionais não apresentam resposta.

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O ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Foto: Reprodução

Hérnia inguinal e hérnia de hiato não se confundem

De acordo com Bertevello, não há relação direta entre a hérnia inguinal e os soluços. O sintoma pode estar associado a irritações no diafragma ou a problemas no esvaziamento do estômago. No caso específico do ex-presidente, o médico aponta possível ligação com refluxo gastroesofágico.

“Ele tem uma hérnia de hiato — um tipo diferente de hérnia, que ocorre quando parte do estômago sobe para onde não deveria, irritando o esôfago e provocando esofagite. Essa irritação, por proximidade com o diafragma, pode desencadear soluços”, explica.

O especialista destaca que, apesar de ambas envolverem deslocamento de tecidos, a hérnia inguinal e a hérnia de hiato afetam regiões distintas do corpo e produzem consequências clínicas diferentes.