Bolsonaro pode ser tudo, menos estadista. Por Kennedy Alencar

Atualizado em 10 de setembro de 2020 às 7:30
Xi Jinping e Jair Bolsonaro passam as tropas em revista na viagem do brasileiro a Pequim – Noel Celis – 25.out.19/AFP

PUBLICADO NO BLOG DE KENNEDY ALENCAR

POR KENNEDY ALENCAR

Ao dizer que pretende manter o comércio com o Irã, o presidente Jair Bolsonaro tenta amenizar o grave erro diplomático que ele e o Itamaraty cometeram ao hipotecar apoio à decisão de Donald Trump de matar um general iraniano no Iraque.

Esse comércio depende da boa relação e das necessidades dos dois países. Obviamente, o Irã precisa de carne, de soja e de milho. E vai preferir comprar do Brasil do que dos Estados Unidos, que impõem sanções aos persas. Mas a Austrália compete com o Brasil no mercado mundial de alimentos.

A submissão incondicional a Trump e a ignorância geopolítica de Bolsonaro e do diplomata profissional Ernesto Araújo podem criar dificuldades para as exportações do agronegócio brasileiro. O governo cometeu uma barbeiragem diplomática.

O presidente brasileiro chegou a dizer que se “reserva ao direito de estadista” para não fazer comentários adicionais sobre o tema. Ora, Bolsonaro pode ser tudo, menos estadista.

Ele não se comporta como estadista. Ele não se comporta como presidente da República.

A forma como ele exerce o cargo não tem nada a ver com a liturgia da Presidência da República. Nesse imbróglio com o Irã, a correção brasileira deveria ser muito maior.