Bolsonaro se consolida como genocida na imprensa europeia. Por Willy Delvalle, de Paris

Atualizado em 17 de maio de 2020 às 20:16
Bolsonaro no canal de TV franco-alemão Arte

A percepção de Jair Bolsonaro como um genocida se consolida na Europa.

“Nova demissão de um ministro da Saúde no Brasil diante da negligência do presidente Bolsonaro”, diz a manchete de abertura do noticiário da TV franco-alemã Arte deste sábado.

“O Brasil é um dos países mais atingidos pelo coronavírus com 14 mil mortos mas Jair Bolsonaro continua incitando os brasileiros ao desconfinamento”, segue o jornal.

“Para o presidente de extrema direita, o que conta é a saúde… da economia”, afirma a âncora, em tom carregado de trágica ironia.

“Diante de sua recusa (a de Bolsonaro) em aplicar medidas coerentes, o ex-presidente Lula diz temer um genocídio em seu país”.

Ao comentar o pedido de demissão de Nelson Teich, um repórter observa que “aparentemente com Jair Bolsonaro nada mais dá certo”.

“Teich não disse porque pediu demissão mas seu desacordo com o presidente é flagrante, como por exemplo sobre a cloroquina, para cujo uso Bolsonaro é favorável, enquanto Teich e pesquisadores a consideram ineficaz (para o tratamento do coronavírus)”.

“Bolsonaro compara o coronavírus a uma gripezinha, opõe-se ao confinamento social e decreta a reabertura de academias e salões de beleza sem informar o ministro, tudo isso em nome da economia”, diz a reportagem.

“Em termos de saúde, o Brasil nunca adotou uma linha clara e coerente”, afirma.

“Essa cacofonia no Ministério da Saúde cai na pior hora, quando só ontem o país registrou mais de 15 mil novos casos”, observa.

“Na Amazônia, os mais ameaçados são os povos indígenas”, aponta, sob imagens de uma etnia sendo examinada face à evocação de um sistema imunológico mais “frágil”.

Contornos genocidas dados, a sequência de reportagens torna mais clara a percepção do horizonte político brasileiro.

A reportagem seguinte aborda a expulsão de um ex-neonazista do partido de extrema-direita alemão AfD, que perde apoio na sociedade ao passo que aumenta a percepção popular de uma boa gestão da crise pela primeira-ministra Angela Merkel.

Brasil e Alemanha, duas federações com concepções diferentes da crise sanitária por seus poderes federais.

Países assombrados pelo genocídio e o nazismo, que veem florescer as manifestações contra o confinamento.

No Brasil, em defesa do governo. Na Alemanha, contra. Ontem eles. Hoje nós.

Por enquanto, nem para o nazifascismo, nem para o coronavírus há cura. Aguardamos.