Bolsonaro se sustenta no ‘voo de galinha’ da economia e na ideologia, afirma cientista política

Atualizado em 10 de setembro de 2020 às 8:28
O presidente Jair Bolsonaro Foto: Evaristo Sá / AFP

PUBLICADO NO REDE BRASIL ATUAL

Pesquisa Datafolha divulgada neste domingo (8) mostra que a aprovação do governo Bolsonaro variou de 29% para 30%, em relação ao último levantamento, publicado em setembro. Os que consideram o governo ruim ou péssimo caíram de 38% para 36%, e os que avaliam como regular subiram de 30% para 32%. Jair Bolsonaro é o presidente com a pior avaliação em seu primeiro ano de governo, comparável apenas ao ex-presidente Fernando Collor de Mello, que registrava 34% de ruim ou péssimo no mesmo período. Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio Lula da Silva registravam desaprovação de 15%, quando haviam completado um ano de mandato e Dilma Rousseff, 6%.

A “leve” melhora na popularidade do governo, com oscilações dentro da margem de erro – que é de dois pontos percentuais para mais ou para menos – está associada à percepção de que a economia deu “um respiro”, diz a cientista política Roseli Coelho, professora da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo.

Segundo ela, a melhora “artificial” se deve não às medidas liberais, mas sim à ações emergenciais de combate à crise, como a liberação do FGTS. Ela afirma que o crescimento de 0,6% no PIB do segundo para o terceiro trimestre, divulgado pelo IBGE na semana passada, comemorado pelo governo, se trata de “voo de galinha“. “É importante que a gente entenda que esse respiro não é uma modificação estrutural, que estariam pondo ordem na casa e, por isso, começou a crescer. O governo já pensa inclusive em adotar isenções na folha de pagamento. Provavelmente vão levando assim até o final do mandato, de susto em susto. Na verdade, está piorando a situação estrutural do país”, afirmou aos jornalistas Marilu Cabañas e Cosmo Silva, para o Jornal Brasil Atual, nesta segunda-feira (9).

Bom para empresários

O apoio ao governo é maior entre empresários (58% de aprovação), os que ganham mais de cinco salários mínimos por mês (44%), que moram na região sul (40%). Entre os evangélicos neopentecostais, o apoio chega a 39%, e entre os brancos, 37%. Em contrapartida, a desaprovação é maior entre os adeptos de religiões afrobrasileiras (55%), moradores do nordeste (50%), indígenas (50%), desempregados (48%), pretos (46%) e mais pobres (43%).

Nesta pesquisa, o Datafolha entrevistou 2.948 pessoas em 176 municípios, na quinta (5) e na sexta (6). As entrevistas foram feitas pessoalmente, em locais de grande circulação.

Para Roseli, esses dados demonstram que o governo mantém parte da sua aprovação a partir das disputas na esfera ideológica, ao adotar uma retórica moralista e religiosa, mas que ao mesmo tempo defende o porte de armas e o direito de matar pelas polícias. Tudo isso combinado com altas doses de “anticomunismo” e “antipetismo”.

Outra contradição apontada por ela é que Bolsonaro adota uma política externa baseada na ideologia, enquanto diz defender as relações com outros países sem “viés ideológico”. O afastamento com o presidente eleito da Argentina, Alberto Fernandez, por exemplo,  tem potencial para causar danos econômicos, inclusive para os próprios empresários que apoiam o presidente.

Outro dado da pesquisa destacado pela cientista política é o que aponta o aumento de 44% para 50% de reprovação popular às medidas de combate à corrupção pelo governo. Para Roseli, esse não é um tema preferencial de Bolsonaro e foi adotado “por inércia”. Agora, “talvez a ficha esteja caindo”, na medida em que a opinião pública vai tomando conhecimento dos escândalos envolvendo candidaturas-laranja no PSL, e dos “pequenos escândalos intrapartidários” que ocorrem no partido que elegeu o presidente.