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Bolsonaro sequer assumiu e já é um desastre internacional. Por Carlos Fernandes

Jair Bolsonaro. Foto: AFP / Sergio LIMA

Definitivamente não existe uma forma possível do governo Bolsonaro dar certo. O presidente eleito sequer assumiu e já é considerado um desastre internacional de proporções insondáveis.

A série de propostas e declarações emitidas por sua equipe desde que ficou confirmada sua vitória, já causaram acidentes diplomáticos impensáveis até por Aloysio Nunes, o atual troglodita que ocupa o Ministério das Relações Exteriores.

Exemplo recente e ilustrativo desse completo despreparo para a diplomacia deu-se com a entrevista desastrosa concedida pelo futuro chefe da Casa Civil, ­ o atual deputado federal e novamente acusado de ter recebido mais uma leva de R$ 100 mil em caixa dois, Onyx Lorenzoni.

Numa demonstração singular de arrogância e desconhecimento, o porta-voz não-oficial do governo atacou inacreditavelmente a Noruega, justamente o nosso principal financiador de recursos destinados à proteção e preservação ambientais.

Ao afirmar que um dos países mais justos, ricos e desenvolvidos do planeta é quem deveria aprender com o Brasil, ficamos sabendo o nível de demência que norteia as principais cabeças que conduzirão o Brasil.

Fora o ridículo da afirmação, ainda fomos obrigados a passar a vergonha de ter o principal interlocutor do governo de transição sendo convidado pela embaixada norueguesa para ter algumas aulas de decência e civilidade.

Passado o episódio, ainda não sabemos de fato se a barbeiragem poderá nos custar algumas centenas de milhões de dólares a menos dos preciosos cofres nórdicos. A conferir.

Nessa mesma esteira de prejuízos econômicos anunciados, a vassalagem gratuita de querer transferir a embaixada do Brasil em Israel de Tel Aviv para Jerusalém, não só mostrou que aprofundaremos nossa atual condição de anão diplomático consolidado por Temer, quanto atraímos a revolta justificada dos países árabes mundo afora.

Uns dos principais destinatários de nossa carne exportada, boicotes aos nossos produtos já estão sendo preparados por diversos países a exemplo do Egito.

Realmente brilhante.

Já seria mais do que suficiente para poucos dias de governo eleito se Bolsonaro, com todo o seu traquejo para o diálogo, não causasse na tarde desta quarta (14) a sua primeira atrocidade concreta contra a população mais pobre e carente do Brasil.

Numa inabilidade e inconsequência impensáveis para um chefe de Estado, o irresponsável que terá ao alcance de sua caneta o poder de guiar o futuro de nossas relações internacionais conseguiu acabar numa velocidade inacreditável um dos programas mais aprovados e eficazes já vistos na história recente desse país.

A extinção do Programa Mais Médicos não é só uma demonstração pormenorizada da sua atrofiada e inepta política ideológica que cinicamente diz querer combater, é simplesmente a materialização do seu desprezo por milhões e milhões de brasileiros humildes e necessitados que dependem da atuação desses médicos para terem um mínimo de dignidade e respeito no que tange aos seus direitos constitucionais de acesso a uma saúde pública gratuita e eficiente.

Ao expulsar do Brasil um contingente de mais de 8.000 médicos do programa, Bolsonaro condena de forma sumária ao completo abandono e morte a parcela mais pobre da população.

Não existem palavras que possam descrever com exatidão tamanha crueldade.

Trata-se de uma atitude desumana sem qualquer amparo racional que possa sustentá-la. Os números que conferem o êxito do Mais Médicos são absolutamente inquestionáveis.

Cobrindo nada menos do que 4.058 dos 5.570 municípios brasileiros, o programa cobre 73% de nossas cidades. Dessas, exatas 1.575 são atendidas atualmente com apenas médicos cubanos.

O colapso que o seu ataque ao governo cubano irá causar no nosso sistema de saúde pública já deficitário, trará consequências desastrosas exatamente para quem mais precisa dele.

É em última análise, criminoso.

Jamais fomos prejudicados de forma tão direta e acintosa no nosso cotidiano por erros grosseiros cometidos no âmbito das relações internacionais quanto o que ora estamos sendo submetidos.

E para que não fique nenhuma sombra de esperança nos dias que estão por vir, o homem que dará continuidade às políticas internacionais no Itamaraty é simplesmente um fanático religioso pró-Trump que atende pelo nome de Ernesto Araújo.

Lastimável.

O governo Bolsonaro sequer começou. Como única certeza que podemos ter dele é que será pior, muito pior do que poderíamos imaginar.

Carlos Fernandes

Economista com MBA na PUC-Rio, Carlos Fernandes trabalha na direção geral de uma das maiores instituições financeiras da América Latina

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