Bolsonaro, seu ressentimento racista de paraíba e os jantares da minha infância. Por Vinícius Segalla

Atualizado em 19 de julho de 2019 às 21:06
Fonte: https://twitter.com/juniorgomesneto/status/1152330347545337856?s=19

Em primeiro lugar, para quem não sabe, chamar nordestino de paraíba, no Rio de Janeiro, é o mesmo que chamar nordestino de baiano, em São Paulo.

Eu tenho 40 anos. Fui criado em uma família de classe média-alta em São Paulo. Meus bisavós ou os pais deles vieram da Itália ou de Portugal. Eram gente pobre, gente operária ou agricultora, explorada e trabalhadora.

Umas três gerações depois, nos idos dos anos 80, já contávamos piada de preto e de baiano na mesa do jantar.

Quando tomam suco de laranja? Quando sobem na vida? Quando não cagam na entrada, cagam quando? Quem é da minha geração, da minha classe social, da minha cor e da minha cidade sabe muito bem que esta lista não tem fim.

“Olha! Eu quero uma camisa assim!” “Larga a mão de ser baiano, Vinícius, que camisa horrível, esse monte de cor misturada!” “Vinícius, fala pra tua irmã tomar cuidado na volta da escola, que tem uma baianada lá na obra que mexe com a gente”. “Ahahah, olha o tênis dele, que baiano! Será que ele comprou na feira?”

A minha infância foi assim. A pré-adolescência, também. Eu juro por Deus que eu estou chorando escrevendo isso aqui.

Será que um dia vão poder me perdoar? Será que um dia vou parar de ter vergonha do que eu e minha família dissemos, pensamos e sentimos? Será que um dia eu vou me perdoar?

Eu sempre me pergunto essas coisas. Faz anos que nem eu nem ninguém da família falamos coisas assim, mas isso não muda tudo, muda?

Enquanto isso, tem o presidente do Brasil, em 2019, falando que, dos governadores lá de “paraíba”, o pior é o do Maranhão.

A mesa de jantar da família dele não mudou nada nos últimos 30, 35 anos. O mesmo preconceito nojento. A mesma porcaria de pensamento.

Isso tudo é uma merda. Obrigado por terem me ouvido.