
Publicado originalmente no Monitor Mercantil
As denúncias contra a Família Bolsonaro estão prestes a completar duas semanas, e até agora o máximo que se conseguiu do rigoroso (quando juiz) Sérgio Moro foram evasivas ao estilo Homer Simpson (“não fui eu” e “quando cheguei já estava assim”). O problema é que nestes quase 15 dias foram se acumulando provas – ou, vá lá, indícios – robustas, que apontam para um envolvimento nem tão atípico assim entre os deputados (pai e filho) e seus assessores. Entre os indícios, o mais evidente é o cheque de R$ 24 mil na conta da futura primeira-dama.
Não está funcionado a tática do presidente eleito de terceirizar a explicação para o PM Fabrício José Carlos de Queiroz. Cabe a ele, Jair Bolsonaro, assumir a responsabilidade de prestar esclarecimentos convincentes à população; e cabe a Moro cobrar, para evitar constrangimentos após o eleito tomar posse e o ex-juiz assumir o Ministério da Justiça – para o qual pleiteia a subordinação do Carf, órgão hoje ligado à Fazenda que encontrou indícios de irregularidades na movimentação bancária de Queiroz.
Para ajudar Moro a “acabar com tudo isso aí”, a coluna sugere um roteiro:
1) Se o cheque nominal à futura primeira-dama se destinava a pagar parte de um empréstimo de R$ 40 mil que Jair Bolsonaro teria feito ao PM, basta o presidente eleito revelar em que data o negócio ocorreu e mostrar cópia do extrato com a transferência eletrônica, modalidade que seria escolhida por qualquer pessoa comum que nada tem a esconder. Se emprestou em dinheiro vivo, que apresente os extratos com os dias em que foram feitas as retiradas – tendo sido desde sempre funcionário público, Bolsonaro só tem como receber dinheiro em conta-corrente; portanto, os saques ficam registrados.
2) Solicitar à mulher do presidente eleito cópias dos extratos com os depósitos.
3) Esclarecer qual atividade exercia a filha de Queiroz no gabinete de Flávio Bolsonaro e depois, no do pai, na Câmara. E por qual motivo ela depositava na conta do PM 100% de seus vencimentos líquidos.
4) Aproveitar para informar o que fazia Val do Açaí, outra ex-assessora de Bolsonaro pai.
Tudo esclarecido e provado, o depoimento de Queiroz ao Ministério Público do Rio de Janeiro passaria a ser apenas uma questão pessoal do ex-PM. Deixados os fatos no ar, como até agora, sobra a forte suspeita de que os Bolsonaro utilizavam suas canetas Bic para nomear assessores, com as contas pagas pela Câmara e pela Assembleia, e que a família está tentando encontrar uma explicação para o destino do dinheiro.