Bolsonaro teme a solidão e o abandono na cadeia. Por Moisés Mendes

Atualizado em 22 de novembro de 2025 às 20:00
O ex-presidente Jair Bolsonaro, preso preventivamente hoje, 22

Até um mês atrás, a extrema direita e parte da velha direita queriam Bolsonaro como candidato insubstituível a presidente em 2026, Mesmo que ele esteja inelegível e tenha sido condenado a 27 anos de cadeia.

Agora, ficamos sabendo que o chefe da organização criminosa tem pelo menos 10 problemas de saúde. Bolsonaro não teria condições de enfrentar a cadeia.

Poderia ser presidente, mas não pode ficar preso. Está no relatório médico enviado ao STF com pedido de prisão domiciliar, na sexta-feira, horas antes de Alexandre de Moraes determinar a prisão preventiva em prédio da Polícia Federal.

Os médicos juntaram sete exames. Os documentos comprometem o histórico de atleta do piloto de jet ski. Teve duas pneumonias recentes. Tem a doença do refluxo gastroesofágico com esofagite, que causa inflamações, dificuldade para comer e dores abdominais.

Descobriu que sofre de oclusão e estenose das carótidas, as artérias do pescoço que levam sangue para a cabeça. Bolsonaro tem circulação de sangue deficiente no cérebro.

Tem a doença aterosclerótica do coração, com acúmulo de placas de gordura nas artérias. Tem hipertensão e anemia por deficiência de ferro, que provoca cansaço e reduz a resistência física.

Enfrenta os soluços intermitentes. Teve câncer de pele. Não dorme direito por sofrer de apneia do sono, com interrupções respiratórias durante a noite. Os médicos citam até uma hérnia inguinal.

Mais um pouco e o relatório apresentaria Bolsonaro como moribundo. Quando se percebe, pelo conjunto do que foi apresentado, que Bolsonaro tem problemas de saúde que uma pessoa normal da sua idade também tem.

Pessoas normais que se tratam em filas do SUS e que são presas em cadeias comuns. Mas Bolsonaro, que tem regalias de homem milionário e de ex-presidente, não quer ser preso.

Bolsonaro teme, por previsível, o abalo da prisão na sua imagem pública. Agora ele é presidiário. Mas o que ele mais teme é a realidade da cadeia.

Teme a solidão, o abandono dos parceiros e a certeza de que não tem forças para sair do cárcere melhor do que quando entrou na madrugada desse sábado.

No entorno do fascismo, muitos dizem que ele tentou evitar a cadeia por ser dengoso. É mais do que isso. Bolsonaro é covarde. O relatório médico é a síntese do que Bolsonaro é.

Um homem que nunca conseguiu oferecer provas da sua presumida valentia militar e que sempre fraquejou na hora da verdade como líder civil da extrema direita.

Bolsonaro foi um fraco quando tentou o golpe e abandonou seus militares e mais de 5 mil pessoas desatinadas na invasão de Brasília. Agora, tem medo da cadeia, de receber as visitas de sempre, de ter que aguentar Valdemar Costa Neto, Demóstenes Cavalcante, Malafaia e Nikolas Ferreira e ver Tarcísio sendo adotado pela Globo.

Se os médicos informaram ao STF que Bolsonaro tem deficiências físicas comuns à população brasileira com idade ao redor de 70 anos, qual seria seu real problema pessoal?

O déficit dele é outro. É o do sujeito que, com esses problemas, considera-se no direito de dispor de privilégios por temer a cadeia. O déficit de Bolsonaro é de hormônios da bravura moral.

Moisés Mendes
Moisés Mendes é jornalista em Porto Alegre, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim) - https://www.blogdomoisesmendes.com.br/