
A decisão do ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), que determinou a prisão preventiva de Jair Bolsonaro neste sábado (22), descreve um episódio ocorrido horas antes da operação: às 00h08 da madrugada, segundo a Polícia Federal, o ex-presidente tentou romper sua tornozeleira eletrônica.
Para Moraes, a ação fazia parte de uma estratégia de fuga articulada a partir de um motim convocado por Flávio Bolsonaro (PL-RJ), que na sexta-feira (21) havia chamado seus seguidores para uma “vigília” na porta do condomínio onde o pai cumpria prisão domiciliar.
Bolsonaro foi condenado a 27 anos e 3 meses por tentativa de golpe de Estado, mas a prisão decretada neste sábado não se refere ao cumprimento dessa pena. Como a condenação ainda não transitou em julgado, ele só pode começar a cumpri-la após o fim dos recursos.
A medida aplicada agora é uma prisão preventiva, prevista na legislação quando há necessidade de garantir a ordem pública, preservar a instrução criminal ou assegurar a aplicação da lei penal.
Na decisão, Moraes destacou: “A informação constata a intenção do condenado de romper a tornozeleira eletrônica para garantir êxito em sua fuga, facilitada pela confusão causada pela manifestação convocada por seu filho”.
Segundo o ministro, o risco não era apenas operacional, mas diretamente ligado ao “modus operandi da organização criminosa liderada pelo referido réu”, que, segundo a decisão, historicamente se apoia em mobilizações populares para buscar vantagens pessoais e pressionar instituições.
A convocação de Flávio Bolsonaro era explícita: uma suposta vigília religiosa pela “saúde” do ex-presidente e pela “liberdade do Brasil”, marcada para as 19h deste sábado.
Vamos invocar o Senhor dos Exércitos!
A oração é a verdadeira armadura do cristão. É por meio dela que vamos vencer as injustiças, as lutas e todas as perseguições. Tenho um convite especial para você: assista ao vídeo até o final!VIGÍLIA PELA SAÚDE DE BOLSONARO E PELA… pic.twitter.com/cYeWu7WG6p
— Flavio Bolsonaro (@FlavioBolsonaro) November 21, 2025
De acordo com a decisão, porém, não havia dúvida de que a mobilização tinha potencial para se transformar em aglomeração descontrolada, com risco para moradores, agentes públicos e o próprio investigado. Ele afirmou: “A conduta indica a repetição do modus operandi da organização criminosa liderada pelo referido réu”.
O ministro também mencionou ações anteriores de Eduardo Bolsonaro, dizendo que o deputado “articula criminosamente e de maneira traiçoeira contra o próprio País”. Segundo Moraes, Flávio e Eduardo atuavam de forma coordenada para criar um cenário de caos que possibilitasse a fuga do pai.
“Na sequência, o outro filho do líder da organização criminosa, Flávio Bolsonaro, insultando a Justiça de seu País, pretende reeditar acampamentos golpistas e causar caos social no Brasil”, escreveu.
Ao justificar a prisão, o ministro pontuou que o tumulto esperado teria “alta possibilidade de colocar em risco a prisão domiciliar imposta e a efetividade das medidas cautelares, facilitando eventual tentativa de fuga do réu”. Bolsonaro foi levado para a Superintendência da Polícia Federal em Brasília assim que agentes chegaram ao condomínio, por volta das 6h.