Bolsonaro teve encontro secreto com ministro do TSE às vésperas de julgamento, mostram mensagens

Atualizado em 16 de maio de 2023 às 13:58
O ex-presidente Jair Bolsonaro e o ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Carlos Horbach

O ex-presidente Jair Bolsonaro teve um encontro sigiloso com o ministro do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) Carlos Horbach, segundo troca de mensagens. A reunião teria ocorrido no Palácio da Alvorada na manhã do dia 16 de outubro de 2021, num sábado, menos de duas semanas antes de julgamento contra o então mandatário, e o episódio não consta na agenda oficial. A informação é da Folha de S.Paulo.

“Precisamos operacionalizar buscar o ministro do TSE onde ele estiver e trazer sem aparecer”, afirmou Célio Faria, então chefe do gabinete pessoal de Bolsonaro, que se tornaria posteriormente ministro da Secretaria de Governo em 2022. A mensagem foi enviada a Mauro Cid, então ajudante de ordens do ex-presidente, na véspera do encontro.

Mais cedo, no mesmo dia, Célio já havia enviado uma mensagem a Cid para falar sobre a reunião. “O chefe precisa falar com uma pessoa neste final de semana. Preciso saber o horário e a pessoa pediu para um carro ir buscá-lo”, escreveu.

O então chefe do gabinete de Bolsonaro afirmou que a reunião ocorreria no Alvorada e citou o ministro Horbach.  Às 9h12 do dia seguinte, no sábado em que o encontro ocorreu, Cid enviou uma mensagem a Célio afirmando: “Min TSE com o Pr” (sic).

Ministro Carlos Horbach nomeado por Bolsonaro
Foto: Agência Brasil

Horbach tem se posicionado de maneira favorável a Bolsonaro e seus aliados em julgamentos importantes. Um deles ocorreu 12 dias depois do encontro, em 28 de outubro de 2021. Na ocasião, o TSE rejeitou a cassação do então presidente e seu vice, Hamilton Mourão, por participação em esquema de disparo em massa de fake news nas eleições de 2018.

A maioria da corte concluiu que foi comprovada a existência de um esquema ilícito de disseminação de notícias falsas no WhatsApp na disputa eleitoral para beneficiar Bolsonaro. Divergindo da maioria, Horbach e o ministro Sérgio Banhos entenderam que não haviam elementos que comprovassem algum tipo de esquema de fake news para beneficiá-lo.

Nesse julgamento, o TSE avaliou que o caso não demonstrava gravidade suficiente para cassar a chapa de Bolsonaro e Mourão, mas fixou uma tese para orientar a Justiça Eleitoral em casos sobre esquemas de disseminação de fake news: enquadrar episódios similares como abuso de poder econômico e uso indevido dos meios de comunicação. Apenas Horbach divergiu deste ponto.

O mandato do ministro termina nesta quinta (18) e ele já anunciou que desistiu da recondução ao cargo. Sua permanência no posto depende de indicação do Palácio do Planalto e ele diz querer se dedicar à advocacia e à docência.

Horbach alegou que mais um biênio no TSE traria “prejuízos” a seus “projetos pessoais e profissionais”. No anúncio, ele ainda disse que “cumpriu sua missão” na Justiça eleitoral e alegou que atuou “com total independência” na corte.

O magistrado foi indicado para o posto em maio de 2021 pelo então presidente Bolsonaro. Ele já atuava na corte eleitoral como substituto e seu nome estava na lista tríplice aprovada pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Participe de nosso grupo no WhatsApp, clique neste link

Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link

Caique Lima
Caique Lima, 27. Jornalista do DCM desde 2019 e amante de futebol.