Bolsonaro troca seis por meia dúzia. Por Denise Assis

Atualizado em 30 de março de 2021 às 10:02
Ernesto Araújo, à direita, com o presidente Jair Bolsonaro: fé e família na diplomacia Foto: SERGIO LIMA / AFP

Publicado originalmente no Jornalistas pela Democracia:

Por Denise Assis

Apertem o cinto. O piloto pirou. Bolsonaro promoveu uma dança das cadeiras que desaloja do cargo seis ministros, provocando uma troca que, literalmente, troca seis por meia dúzia.

Pressionado a demitir o ministro das Relações Exteriores, Ernesto Araújo, quis passar a imagem de que as decisões são suas, o que quer que elas signifiquem.

Com isto, pensa ter dado o troco ao presidente da Câmara, Artur Lyra, que lhe prometeu um remédio amargo, caso não mudasse sua postura com relação à pandemia.

Acredita ter colocado no devido lugar a senadora Kátia Abreu, que chamou o ministro Araújo de “marginal” e exigiu a sua saída, após ele ter tentado caluniá-la com os seus pares.

E, por fim, deixou no ar uma ameaça ao comandante do Exército, Edson Pujol, que em sua opinião não tem dado aos seus arroubos – como a ameaça a baixar estado de sítio -, a devida importância, mandando o recado ao demitir do cargo de ministro da Defesa, o general Fernando Azevedo e Silva.

Numa semana pós-decisão sobre parcialidade do ex-juiz Sérgio Moro, em que ficou evidente o que cabe a cada um no latifúndio do desastre em que o Brasil foi jogado, houve de tudo.

Primeiro, textos pela mídia, que se admitisse ter sido uma decisão justa, estaria jogando sobre si uma grande parcela de culpa pelo desfecho de termos Bolsonaro à frente do país, em momento trágico e caótico.

Em seguida, um artigo do ex-ministro da Defesa e do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, Sergio Etchegoyen, um dos articuladores do golpe que destituiu a ex-presidente Dilma Rousseff.

Nele, o general se coloca – pasmem – contra a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), numa postura claramente antidemocrática. Um dos preceitos militares é o respeito à Lei e à Constituição. Ao se colocar contra a decisão de um dos poderes da República, Etchegoyen está indo contra este princípio.

No artigo, desbragadamente ultradireitista e pró-estadunidense, o ex-ministro chama a votação de “uma canetada monocrática – referindo-se à decisão de Fachin -, e acusa o Supremo de criar “vácuos jurídicos”, em referência à decisão sobre Moro.

Hoje, segunda (29/03), início da semana, já seriam emoções verdadeiramente fortes, ter que acompanhar ao longo do dia o resultado da incitação feita pelo Twitter, da deputada Bia Kicis, às polícias militares de todo o país, para que pipocassem motins país a fora, como desagravo ao PM, identificado como Wesley Soares Góes.

O PM era noivo e trabalhava na 72ª CIPM havia pelo menos quatro anos e foi baleado após 3h30 de negociação para que se entregasse aos integrantes das equipes do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE), no início da noite. Wesley morreu nesta tarde, em consequência dos ferimentos feito durante o cerco.

A pauta bolsonarista ao longo do dia só fez crescer. Numa semana em que os nervos já estavam à flor da pele com a perspectiva de atos em comemoração ao 31 de março, que se avizinha, Bolsonaro achou pouco.

Premido pela grita para que demitisse Ernesto Araújo, Bolsonaro cedeu. Não tinha opção. Porém, ao fazê-lo puxou a toalha da mesa e trouxe de cambulhada: Fernando Azevedo, substituído pelo general Braga Neto (antes da Casa Civil); o até agora ministro da Justiça, André Mendonça, foi deslocado  para a Advocacia Geral da União (AGU), sendo substituído por um delegado da Polícia Federal, Anderson Torres.

Para o lugar de Ernesto Araújo foi Carlos Alberto França, hoje chefe da assessoria especial do presidente, e o atual  ministro da Secretaria de Governo, Luiz Eduardo Ramos, cedeu lugar para a até então presidente da Comissão de Orçamento, a deputada Flávia Arruda PR-DF).

O que quer que essas mudanças signifiquem, só apelando para os versos de Milton Nascimento: “sei que nada será como antes, amanhã”…