Bolsonaro veta inclusão do Brasil em aliança mundial para proteção de florestas. Por Willy Delvalle

Atualizado em 21 de dezembro de 2019 às 6:18
Bolsonaro e o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles

O governo Bolsonaro dificulta mais uma vez a articulação mundial para a proteção do meio ambiente.

O Brasil se recusou a participar da Aliança para a Proteção de Florestas Tropicais. A plataforma está sendo criada pela França e já conta com a parceria das principais potências europeias, países da África, Oceania e América do Sul.

Fontes diplomáticas francesas que participaram da elaboração do Acordo de Paris explicaram, com exclusividade ao DCM, que o mecanismo, ainda em fase embrionária, tem forte apoio do secretário-geral da ONU António Guterres.

Uma das propostas é que o Banco Mundial gere as doações, com o objetivo de tornar mais rápida a reação internacional aos países que pedem ajuda e evitar que os incêndios deste ano na Amazônia se repitam a nível mundial.

Um exemplo citado é o da Bolívia, cujo presidente Evo Morales, ao contrário de Jair Bolsonaro, pediu ajuda internacional para conter a escalada de incêndios na Amazônia.

O caso é emblemático, na visão da diplomacia francesa, da centralidade da soberania para os países latino-americanos na formação da rede internacional ambiental em criação.

“A soberania é inegociável”, razão pela qual apenas os solicitantes de ajuda receberão doações e serão acompanhados pelos países doadores de fundos.

A última COP 25 (Conferência das Nações Unidas sobre as Mudanças Climáticas) serviu à Aliança para angariar apoiadores. Entre os países desenvolvidos, Alemanha, Noruega, Holanda, Reino Unido, Espanha e Canadá se comprometeram a participar.

Na América do Sul, foi o caso de Chile, Colômbia e Bolívia. O apoio também ocorre na África, pela República Democrática do Congo, República do Congo e Gabão, países com grandes áreas florestais, e, na Ásia, Papua-Nova Guiné.

Participantes, Alemanha e Noruega foram justamente os países que decidiram bloquear suas doações ao Fundo da Amazônia por causa da negligência do governo brasileiro diante dos incêndios.

Bolsonaro chegou a sugerir que a Noruega repassasse o dinheiro à Alemanha, em vez de destiná-lo à floresta amazônica.

Depois que o presidente do Brasil chamou a primeira-dama francesa de “feia” ao receber críticas de Macron à sua política ambiental, fontes diplomáticas da França apontam a difícil tentativa de diálogo com Jair Bolsonaro.

“Tudo é instrumentalizado e toma proporções consideráveis. Chega-se a um nível que sai do racional muito rápido”, explica uma delas.

“Há dificuldades políticas de base real. É preciso manter a cabeça fria. Há verdadeiras dificuldades para responder ao problema da Amazônia. Cabe a nós hoje encontrar meios a curto, médio e longo prazo para evitar que isso se reproduza”, prossegue, lembrando que a França também faz parte da floresta amazônica, na Guiana Francesa.

O relato é de que as primeiras articulações da Aliança para Florestas Tropicais ocorreram em setembro, em Nova Iorque, onde o Brasil foi convidado para aderir, mas recusou o convite. A missão brasileira disse que aquele “não era o melhor momento”. E agradeceu pela ser informada.

A solução encontrada pela França foi “descentralizar” a cooperação para os estados que compõem a Amazônia e as prefeituras. A Aliança deve se consolidar ao longo do ano de 2020, não com a ajuda da República Federativa do Brasil, mas com estados e municípios.

No momento em que uma parte importante do mundo começa a despertar para a urgência da questão ambiental, Jair Bolsonaro faz o Brasil perder a oportunidade enquanto Estado de se tornar um grande ator mundial, ou até mesmo um líder de uma nova ordem política cuja prioridade é o meio ambiente.

Salvo governadores e prefeitos, que tentam exercer um papel que é do presidente, Bolsonaro vai destruindo a imagem do Brasil no mundo, transformando-o num vilão do clima.