Bolsonaro volta a ameaçar o Brasil e segue na sua trajetória de traidor em momento de guerra. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 25 de março de 2020 às 10:23
Bolsonaro, no pronunciamento em 24/03/2020. Foto: Reprodução do YouTube

Menos de doze horas depois do pronunciamento irresponsável na TV, Jair Bolsonaro voltou ao ataque nesta manhã e compartilhou áudio sem credibilidade de um brasileiro que supostamente está nos Estados Unidos. Pior: depois de defender a reabertura das escolas, Bolsonaro diz que o comércio deve voltar a funcionar.

“38 milhões de autônomos já foram atingidos. Se as empresas não produzirem não pagarão salários. Se a economia colapsar os servidores também não receberão. Devemos abrir o comércio e tudo fazer para preservar a saúde dos idosos e portadores de comorbidades”, escreveu.

Bolsonaro está ameaçando os brasileiros, em vez de trabalhar para minimizar os impactos da pandemia, como faz o conservador Boris Johnson na Inglaterra ou o progressista Alberto Fernández, na Argentina, que tomam medidas para socorrer aqueles que não estão inseridos no sistema de proteção social.

Na Argentina, os informais receberão um salário equivalente a 800 reais enquanto durar a crise, Boris Johnson nacionalizou os hospitais privados, a Índia mandou toda a sua população — de mais de 1 bilhão de habitantes — ficar em casa, os Estados Unidos estão imprimindo mais dólares.

São decisões tomadas como estivéssemos em guerra. E, na verdade, estamos, contra um inimigo mortal e invisível. E Bolsonaro, nesta guerra, se comporta como um traidor.

Imagine-se a Segunda Guerra Mundial e Winston Churchill, ao assumir o governo britanico em 1940, indo à TV para dizer que Adolph Hitler não era assim uma ameaça tão séria à humanidade, e que, em defesa da economia, se deveria tolerar a invasão da Holanda, Bélgica, Luxemburgo e França.

Em vez disso, Churchill fez um discurso em que a única promessa foi oferecer o próprio “sangue, sofrimento, lágrimas e suor”. Vale reproduzir um trecho daquele discurso:

Temos perante nós uma dura provação. Temos perante nós muitos e longos meses de luta e sofrimento. 

Perguntam-me qual é a nossa política? Dir-lhes-ei; fazer a guerra no mar, na terra e no ar, com todo o nosso poder e com todas as forças que Deus possa dar-nos; fazer guerra a uma monstruosa tirania, que não tem precedente no sombrio e lamentável catálogo dos crimes humanos. -; essa a nossa política. 

Perguntam-me qual é o nosso objectivo? Posso responder com uma só palavra: Vitória – vitória a todo o custo, vitória a despeito de todo o terror, vitória por mais longo e difícil que possa ser o caminho que a ela nos conduz; porque sem a vitória não sobreviveremos. 

O antecessor de Churchill, Neville Chamberlain, se comportava como Bolsonaro, um pusilânime incapaz de compreender a gravidade do momento. Fez acordo com Hitler, e assim facilitou a ofensiva militar do inimigo. Caiu quando a sociedade britânica percebeu que, se Chamberlain não caísse, cairiam todos os britânicos.

Um sentimento expresso nas palavras do primeiro discurso de Churchill:

Compreendam bem: não sobreviverá o Império Britânico, não sobreviverá tudo o que o Império Britânico representa, não sobreviverá esse impulso que através  dos tempos tem conduzido o homem para mais altos destinos. 

Mas assumo a minha tarefa com entusiasmo e fé. Tenho a certeza de que a nossa causa não pode perecer entre os homens. Neste momento, sinto-me com direito a reclamar o auxílio de todos, e digo “Unamos as nossas forças e caminhemos juntos”.

No Brasil, setores importantes da sociedade já perceberam que a pandemia é séria. Até o comandante do Exército, Édson Leal Pujol, uma hora antes do discurso de Bolsonaro, se expressou em termos apropriados para quem compreende que se trata de uma guerra:

“Julgamos que é o momento oportuno para lhes dirigir esta mensagem de estímulo e de confiança. Uma de nossas responsabilidades para com a Nação, particularmente neste momento de crise, é de que nossa tropa deve manter a capacidade operacional para enfrentar esse desafio e poder fazer a diferença. Talvez seja a missão mais importante da nossa geração. (…) Contamos com a ajuda de todos porque o momento exige união, organização e especial cuidado com a própria saúde e a dos que nos cercam para que possamos superar mais este desafio que a história do nosso País nos apresenta. O Braço Forte atuará se for necessário, e a mão amiga estará mais estendida do que nunca aos nossos irmãos brasileiros. A todos a certeza de que, parafraseando a nossa canção, se a nossa Pátria amada está sendo ameaçada, lutaremos sem temor”.

Em nenhum momento, o comandante do Exército cita o nome de Jair Bolsonaro ou a Presidência da República. Fala em atender aos órgãos governamentais.

O assunto é sério, e Bolsonaro não reúne condições mínimas de liderar o Brasil neste momento difícil.

Bolsonaro segue a sua vocação, expressa desde que traiu o seu compromisso de se submeter à hierarquia do Exército — em 1986, conseguiu uma página da revista Veja para desafiar o seu comandante na época, general Leônidas Pires Gonçalves, ministro do Exército, e pregar a insubordinação no seio da instituição a que servia.

Bolsonaro é um traidor que nos coloca a todos em risco.

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Abaixo o tuíte de Bolsonaro nesta manhã:

Agora, veja o pronunciamento do comandante do Exército:

Hoje de manhã Bolsonaro voltou a se pronunciar. Foi na saída do Alvorada. Estava descontrolado.