
Foto: Reprodução
Em meio às tentativas de obter uma trégua com o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) ministro Alexandre de Moraes e implementar sugestões de militares para as urnas eletrônicas, o presidente Jair Bolsonaro passou duas semanas evitando ataques ao Tribunal Superior Eleitoral.
No final de semana passado ele chegou a dizer, inclusive, que respeitará o resultado das eleições caso perca em outubro. Mas, em entrevista à Jovem Pan na última sexta-feira (26/08), o presidente deu nova guinada no tom e voltou a fazer insinuações sobre uma suposta vulnerabilidade do sistema das urnas eletrônicas, ensaiando um retorno à narrativa bélica sobre as eleições, mostra reportagem da Folha hoje.
Até ontem, Bolsonaro vinha se mantendo quieto, mesmo depois da operação contra empresários bolsonaristas, que confabulavam sobre um golpe no WhatsApp, deflagrada pelo ministro do STF Alexandre de Moraes na última terça-feira. Na noite anterior, no Jornal Nacional, Bolsonaro havia adotado um tom mais contido, embora tivesse falado que só respeitaria o resultado das eleições “se fossem limpas” – como se houvesse dúvidas a respeito. Após a entrevista do ex-presidente Lula, porém, Bolsonaro deu vários sinais de que pretende abandonar o figurino “light” durante uma longa entrevista ao programa Pânico.
Ao comentar a decisão do Tribunal Superior Eleitoral que reiterou uma lei eleitoral que proíbe o eleitor de levar o celular para a cabine de votação, Bolsonaro insinuou que a corte buscava dificultar a denúncia de eventuais fraudes. “O que eu mais recebi em 2018 (foram) pequenos vídeos de pessoas do Brasil todo que iam votar, apertavam o 17 (número do PSL, seu então partido) e não saía. Já dava (como) encerrado ou aparecia lá o 13, o Haddad e encerrava a votação”. A Justiça Eleitoral, no entanto, já desmentiu esse vídeo, comprovando que se trata de uma montagem.
Além das fake news sobre as urnas, o presidente também repetiu a afirmação de que as Forças Armadas encontraram problemas nas urnas eletrônicas, embora nada de concreto tenha sido apresentado pelos militares. “Vamos esperar arrombarem a porta para depois botar uma tranca ou não?”, disse o presidente. “No primeiro momento, foram centenas de vulnerabilidades encontradas (pelas Forças Armadas). E pedimos muita coisa, não nos foi fornecida muita coisa e não vão fornecer”.
À Jovem Pan, Bolsonaro afirmou também que a operação da Polícia Federal contra empresários bolsonaristas, decretada por Alexandre de Moraes, foi uma “interferência” do ministro do Supremo que, na sua visão, deseja “o poder”. Ainda na entrevista, o presidente afirmou que uma “ordem absurda não se cumpre”, em referência ao veto parcial de Moraes a peças publicitárias do bicentenário da Independência com teor político.
Até então, a última vez que o presidente havia tocado no assunto foi em uma live no YouTube com o jornalista esportivo Rica Perrone no dia 13. “Ninguém usa (urnas eletrônicas) lá fora. Na propaganda (divulgação) do nosso sistema, não tem nenhum país interessado”, afirmou Bolsonaro na ocasião. “Ninguém quer o nosso sistema”.
Três dias depois, o novo presidente do TSE, Alexandre de Moraes, tomou posse na presidência do tribunal em um ato do qual Bolsonaro participou e que teve amplo apoio ao sistema eleitoral por praticamente todas as forças políticas. “Nós somos a única democracia do mundo que apura e divulga os resultados eleitorais no mesmo dia com agilidade, segurança, competência e transparência. Isso é motivo de orgulho nacional”, defendeu Moraes, sob muito aplausos e para evidente desconforto do presidente.
Pesquisas qualitativas da própria campanha indicam que os eleitores rejeitam o discurso radical do presidente sobre fraudes nas urnas. Seus aliados temem que esse ensaio de radicalização acabe prejudicando o desempenho do presidente no debate de presidenciáveis que a Rede Bandeirantes realizará neste domingo. Bolsonaro, que tinha decidido não ir ao debate, agora confirmou de novo presença.