O presidente Jair Bolsonaro (PL), candidato à reeleição, volta à bancada do Jornal Nacional na noite desta segunda-feira (22) para participar da sabatina com os postulantes à vaga no Palácio do Planalto.
Em 2018, na eleição em que saiu vencedor, ele usou o espaço na TV Globo para relacionar o candidato Fernando Haddad (PT) com a distribuição de um suposto “kit gay” em escolas de todo o país. A falsidade da informação foi confirmada por uma decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que pediu a suspensão de links de sites e redes sociais com a expressão.
A decisão do ministro Carlos Horbach atendeu a um pedido do PT para barrar links que vinculam o livro Aparelho Sexual e Cia. a programas do Ministério da Educação enquanto Haddad estava à frente da pasta. Horbach escreveu que a informação equivocada “gera desinformação no período eleitoral, com prejuízo ao debate político, o que recomenda a remoção dos conteúdos com tal teor”.
O livro escrito por Zep (pseudônimo do autor suíço Philippe Chappuis) foi mostrado por Bolsonaro no Jornal Nacional. O episódio retoma acusações de 2011. Desde então, o fato tem circulado novamente nas redes sociais em diversos links e vídeos como prova da distribuição de um conteúdo didático que “incentiva a sexualidade precoce nas crianças”.
Em 2011, o Ministério da Educação financiou uma cartilha de orientação para professores chamada “Escola Sem Homofobia” que integrava o programa Brasil sem Homofobia, lançado em 2004. A versão impressa, no entanto, nunca foi distribuída por acusações da bancada evangélica e setores conservadores de que o material estimulava “o homossexualismo (sic) e a promiscuidade”.
Interrupções
As entrevistas realizadas pelo Jornal Nacional em 2018 provocaram calorosas manifestações nas redes sociais, como mobilizaram opiniões dentro da academia, entre especialistas da área do Jornalismo e da Comunicação Social. Um dos aspectos mais criticados foi a quantidade de interrupções feitas pelos apresentadores do jornal, William Bonner e Renata Vasconcellos, durante as respostas dos entrevistados.
Em 27 minutos de sabatina, que foi o tempo-padrão concedido a todos os concorrentes selecionados para entrevista ao vivo, Fernando Haddad (PT) sofreu 62 interrupções; Jair Bolsonaro (PSL), 36; e Ciro (PDT), 34. A contagem é da revista Fórum.
Em entrevista ao Brasil de Fato publicada durante as eleições de 2018, o professor Samuel Lima, do Observatório da Ética Jornalística (Objethos), da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), disse que a conduta dos apresentadores demonstra um distanciamento do interesse central do jornalismo, comprometendo o conceito de “entrevista”.
Lima destacou que as constantes interrupções colocam os apresentadores do JN num patamar diferente do que se espera de um jornalista. “O polo mais importante de uma entrevista não pode estar na figura do entrevistador ou da entrevistadora. Eles fugiram completamente do objetivo e o resultado, o conjunto da obra, é desastroso em [relação a] todas as candidaturas, independentemente da cor ideológica delas. Não se trata de entrevistas, mas de interrogatórios”, criticou.
Na ocasião, também chamou atenção no debate público, dentro e fora da internet, a discrepância entre as diferentes sabatinas no que se refere ao número de interrupções feitas. No caso do ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) foram 62 manifestações dos apresentadores durante a fala do petista, enquanto Bolsonaro apenas 36.
Lima aponta que o número superior de interrupções de Haddad pode ter cunho político. “Foi uma tentativa de enquadramento, de linchamento público de alguém que eles consideram um adversário a ser batido, não um entrevistado, não alguém que tem conteúdos, informações importantes a transmitir pro público”, afirma.
Texto originalmente publicado em Brasil de Fato.