Bolsonaros nomearam todos os Queiroz e filha de ex-assessor acumulou empregos. Por Marcelo Auler

Atualizado em 11 de dezembro de 2018 às 18:22
Jair e Eduardo Bolsonaro ao lado do amigo Queiroz (Reprodução das redes sociais)

Publicado no blog de Marcelo Auler

Pode ser mera coincidência. Ou mesmo um grande esforço, por parte de uma jovem determinada a vencer na vida. Mas, diante da revelação da Folha de S. Paulo, em 11 de janeiro passado – Bolsonaro emprega servidora fantasma que vende açaí em Angra – não chega a ser exagero imaginar que o hoje presidente eleito Jair Bolsonaro, bem como seu filho, o deputado estadual Flávio Bolsonaro, podem ter abrigado outros servidores fantasmas em seus gabinetes. Agora depende apenas de uma boa apuração dos fatos.

Coincidência ou não, segundo informações recebidas pelo deputado Paulo Pimenta (PT-RS), Nathalia Melo de Queiroz, filha mais velha do subtenente da PM Fabrício José Carlos de Queiroz, enquanto servidora da Assembleia Legislativa (março de 2011 e julho de 2012) e da Câmara dos Deputados (abril de 2016 a abril 2017), também esteve contratada em academias de ginásticas do Rio de Janeiro. Queiroz, como noticiado aqui em O$ mistério$ que rondam Queiróz, o “amigo” dos Bolsonaros, na condição de assessor do deputado Flavio Bolsonaro movimentou mais de R$ 1,2 milhão em conta bancária de forma, ao menos, pouco usual, por isso, colocada sob suspeita.

Não há nada que impeça servidores da ALERJ ou da Câmara Federal de acumularem serviço com outras atividades. Desde que consigam dar conta da carga horária exigida pelo serviço público. Mas nas duas casas legislativas não existe ponto. A frequência é atestada pelo parlamentar ao qual o servidor está relacionado. Na Câmara dos Deputados também há a possibilidade de o servidor trabalhar na chamada “base” do deputado. O que justificaria Nathalia ser servidora de Jair Bolsonaro em Brasília e continuar morando no Rio.

Estranho, porém é que Nathalia, nascida em abril de 1989, pouco depois de completar 18 anos, em setembro de 2007, tenha ingressado no quadro funcional da ALERJ e, quatro anos depois, em março de 2011, sem deixar o emprego público, passou a trabalhar como “recepcionista” da Norte Fitiness Center, Academia de Ginastica Ltda.. Ficou empregada ali até, provavelmente, julho de 2012. Segundo registros da Receita Federal, o CNPJ desta academia – 08.179.113/0001-08 – teve baixa em abril de 2013, ao ser incorporado ao de outra empresa.

Durante 17 meses ela acumulou os dois serviços. Sendo que na ALERJ, em 2011, tanto ocupou o cargo de “Dirigente do Serviço Público Federal” como o de “Assistente Administrativo”, conforme informações recebidas pelo líder do PT, Paulo Pimenta. No fundo, exercia a função de assessora parlamentar.

Ela deixou o emprego da ALERJ em dezembro de 2016, no mesmo mês em que sua irmã menor, Evelyn, nascida em julho de 1994, portanto com 22 anos, assumiu uma função como “assessora parlamentar”. Cargo no qual se encontra até hoje recebendo R$ 7.550,00 líquidos, como registra a folha de pagamento de outubro.

No mesmo mês de dezembro de 2016, porém, Nathalia ingressou na Câmara dos Deputados, em Brasília, como secretária parlamentar do pai de Flávio, o deputado federal Jair Bolsonaro. Em janeiro de 2017, seu salário líquido foi de R$ 8.752,58. Menos, portanto, que os R$ 9.207, líquidos que teria recebido como última remuneração na ALERJ, conforme informou Lauro Jardim, em sua coluna de O Globo – Flávio Bolsonaro empregou em seu gabinete família de PM monitorado pelo Coaf. (Na página de transparência da ALERJ aparecem os salários de 2017 e 2018).

Ao mesmo tempo em que se dedicava como secretaria parlamentar do hoje presidente eleito, Nathalia conseguiu tempo para trabalhar, já não mais como recepcionista, mas como professora – provavelmente personal trainer – em outra academia de ginástica. Durante o ano de 2016 e alguns meses de 2017 ela prestou serviços também à Sports Solution Academia Ltda.  (CNPJ 09.450.173/0001-86), que tem o nome fantasia de Iron Boxe. Segundo dados da Receita Federal, localiza-se na Avenida do Pepe, na Barra da Tijuca.

Como já se afirmou acima, não há ilegalidade no acúmulo de funções, desde que a carga horária no emprego público seja preenchida. Mas a frequência não é atestada por ponto e sim pelo parlamentar que requisita o servidor, ainda mais no caso daqueles que trabalham no estado de origem do político, distante de Brasília. Isso permite levantar suspeita de servidores fantasmas ou, simplesmente, desviados de suas funções.

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