A entrevista de Willian Bonner ao Conversa com Bial na madrugada de hoje é mais uma triste amostra do que vêm colhendo todos aqueles que de algum modo apoiaram o golpe e fecharam os olhos para o bolsonarismo.
São eles, na verdade, os primeiros e verdadeiros responsáveis pela onda fascista que temos experimentado nos últimos anos.
Na conversa – por videoconferência, cada um na sua casa, é claro – Bonner reclamou da crescente cultura do ódio nas redes sociais e nas ruas e dos ataques à imprensa.
“Minha quarentena começou em 2018, quando a polarização política tornava a minha presença em determinados locais públicos motivo de tensão”, disse.
Contou, ainda, sobre os episódios de insultos e acusações a ele próprio e ao seu filho Vinícius Bonner.
Recentemente, Vinícius teve seu nome usado por um criminoso para solicitar o auxílio emergencial, em uma das fraudes que, segundo Bonner, vêm acontecendo há três anos.
“Ele não fez isso pra ficar com os 600 reais. Fez isso para que o filho do âncora do Jornal Nacional aparecesse como alguém que fez algo muito feio”, disse, ao comentar o episódio.
As histórias do pobre âncora perseguido e insultado apenas por fazer o seu trabalho (coitado!), vão de falsidade ideológica a agressão verbal por uma bêbada numa padaria numa manhã ordinária de sábado.
“Pessoas que hoje estão me xingando, dois, três anos atrás, batiam palma”, comenta, buscando conferir à própria voz algum tom de absurdo.
O âncora e editor-chefe do Jornal Nacional, homem de confiança da família Marinho, embaixador do antipetismo no horário nobre, se vê no direito de reclamar do ódio bolsonarista?
Faça-me uma garapa.
O gado de Bolsonaro – esse monstro que a Globo ajudou a criar e alimentou por muito tempo – só responde ao berrante de seu líder. Sempre foi assim.
Será que quando dava publicidade aos áudios criminosamente vazados por Sérgio Moro em matérias gigantescas cheias de acusações a Lula e ao PT, ele imaginava-se ajudando a criar um monstro tão perverso quanto este do bolsonarismo?
Quando endossava a narrativa cínica e antidemocrática que abriu alas para o golpe contra Dilma, poderia supor que o que viria depois seria o fascismo, a barbárie e a incivilidade?
Mesmo com esse gostinho de “eu avisei”, um progressista que se preze não se sente satisfeito com a perseguição ao filho Vinícius, não ri dos insultos de uma bêbada às 10 da manhã, mas, verdade seja dita:
Bonner não é uma vítima – no máximo, vítima da própria narrativa fascista que fugiu ao controle.
É triste viver num país onde ódio virou uma bandeira, mas todos aqueles que contribuíram para essa catástrofe são cúmplices.
Quem planta ódio e fascismo não pode ir à padaria em paz.
Força, ícone.
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