Boulos parece estar sendo empurrado para ser o Lula do PSOL: menos, gente, menos. Por Luís Felipe Miguel

Atualizado em 2 de dezembro de 2020 às 8:09
Em isolamento, Boulos sai na sacada e exibe cartaz aos simpatizantes. Foto: Reprodução/Twitter

PUBLICADO NO FACEBOOK DO AUTOR

Guilherme Boulos é um grande quadro, ninguém duvida disso. Pelo pouco que pude ver e segundo todos os depoimentos, fez mesmo uma belíssima campanha.

Mas é preciso olhar com objetividade o resultado. Ele não furou o teto da esquerda – fez um ponto percentual a mais e 250 mil votos a menos do que Haddad tinha feito em 2018 na cidade de São Paulo.

E o PSOL avançou um pouco, mas continua um partido pequeno. Tem cinco prefeituras num universo de mais de 5.500 municípios. Se repetir para deputado federal a votação que fez para vereador (1,67% dos votos válidos nacionais), não consegue superar a cláusula de barreira em 2022.

Por isso me incomoda o triunfalismo e, ainda mais, a avidez com que alguns amigos do PSOL parecem dispostos a invocar, muito prematuramente, o hegemonismo que sempre criticaram no PT.

Boulos parece estar sendo empurrado – contra a sua vontade, até onde posso ver – para uma posição de Lula do PSOL: ponto de convergência de correntes muito díspares entre si, símbolo maleável que cada uma adapta segundo sua conveniência e depositário único e mítico de todas as esperanças.

Lendo algumas análises, parece que Boulos foi eleito imperador do universo – e não derrotado para a prefeitura de São Paulo.

Menos, gente, menos. Essa leitura obscurece pelo menos três pontos essenciais da análise da conjuntura.

1 – A esquerda, como um todo, continua debilitada e com dificuldade de enfrentar a direita unida (bolsonaristas, tucanos etc., reunidos em torno do mesmo projeto antipopular de fundo e usando todas as muitas armas de que dispõem).

2 – O antipetismo continua forte – e ele não se volta apenas contra o PT, mas contra a esquerda como um todo. “Antipetismo” é o nome de fantasia da criminalização de toda a esquerda. As eleições de novembro deixaram isso bem claro. Julgar que um candidato à esquerda com outro rótulo partidário escapa dele é ingenuidade.

3 – A direita que deu o golpe de 2016 não está pronta para deixar que a esquerda retome o poder pelo voto. Desse ponto de vista, a ilusão do “Boulos vai ganhar em 2022” é tão danosa quanto era o “Lula vai ganhar em 2018”. Só vamos ganhar, com quem quer que seja, se tivermos força na sociedade para bloquear os muitos golpes que virão.

Essa continua sendo a tarefa – organizar a resistência, organizar o movimento popular. Boulos – que não está nem um pouco preocupado em lançar provocações contra o PT, muito pelo contrário – mostra saber disso. Vale a pena ouvi-lo, mais do que apenas exaltá-lo.