Provável candidato a vice, Braga Netto engorda salário em R$ 17 mil como assessor de Bolsonaro

Atualizado em 4 de maio de 2022 às 18:57
Braga Netto
Principal candidato a vice de Bolsonaro na chapa presidencial, Braga Netto segue “engordando” salário de militar da reserva – Flickr do Palácio do Planalto

A saída de Walter Braga Netto do comando do Ministério da Defesa, publicada no Diário Oficial da União de 31 de março, ofuscou uma decisão confirmada naquela mesma edição: a nomeação do general da reserva como assessor especial do gabinete pessoal do presidente Jair Bolsonaro (PL).


Exoneração de Walter Braga Netto do cargo de ministro da Defesa, publicada no Diário Oficial da União / Reprodução/Diário Oficial da União


Nomeação de Walter Braga Netto ao cargo de assessor especial da Presidência da República, publicada no Diário Oficial da União / Reprodução/Diário Oficial da União

Apontado como candidato a vice na chapa do atual chefe do Executivo para a disputa pela reeleição presidencial, Braga Netto teve que deixar a Defesa porque a legislação obriga que ministros de Estado peçam demissão de seus cargos seis meses antes do primeiro turno das eleições.

Para cargos de confiança, como o de Braga Netto no Palácio do Planalto, a lei permite que a “desincompatibilização” (termo que define o afastamento formal do cargo público) ocorra até de 2 julho, três meses antes do primeiro turno das eleições.

Com os três meses adicionais em que vai poder “engordar” o salário, Braga Netto vai acumular uma remuneração bruta mensal de R$ 16.944,90. No total, serão R$ 51 mil ganhos pelo general da reserva no período pré-eleitoral. Além desse valor, ele segue recebendo R$ 32.734,85 brutos mensais como general reformado. Clique aqui e veja os detalhes da remuneração no Portal da Transparência.

Como assessor pessoal de Bolsonaro, Braga Netto segue gozando de status ministerial. Na última terça-feira (3), inclusive, participou da reunião do presidente com o Alto Comando do Exército, encontro que reúne oficiais do alto escalão militar.


Reunião do Alto Comando realizada em 3 de maio, no Ministério da Defesa; ao fundo, Bolsonaro e Braga Netto / Ministério da Defesa

Desde que assumiu o cargo, o general da reserva acompanhou o presidente em quatro viagens. Em todas elas, foram registrados episódios com teor político-eleitoral. Uma das viagens foi feita para encontrar lideranças evangélicas em Cuiabá (MT), na “Marcha para Jesus”, no último dia 19.

Outro lado

O Brasil de Fato entrou em contato com a Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República para verificar se o órgão pretende se posicionar sobre o tema. Até o momento, não houve resposta ou acusação de recebimento da demanda. O espaço segue aberto para manifestações.

“O cara do mapa da mina”

Os pesquisadores Ana Penido, doutora em Relações Internacionais, e Rodrigo Lentz, doutor em Ciência Política, ambos do Observatório da Defesa e Soberania Nacional, comentaram a escolha de Braga Netto para vice de Bolsonaro, em entrevista recente ao Brasil de Fato.

Os autores do dossiê A questão militar no Brasil: o retorno do protagonismo dos militares na política disseram que o general reformado é “o cara que tem o mapa da mina”, em referência à experiência acumulada na intervenção federal do Rio de Janeiro, em 2018, ainda no governo de Michel Temer (MDB).

“Ele é o cara que literalmente sabe de toda a economia criminal do submundo do Rio de Janeiro. Tudo indica que ele tem relação com a economia que financiou as campanhas de vereador e de deputado do Bolsonaro e, depois, da sua família”, disse Penido.

Segundo ela, Braga Netto “nunca foi um ministro qualquer”. “No próprio instituto, a gente mudou a nossa abordagem da questão quando ele se tornou ministro da Casa Civil. Porque, até então, a maior parte das matérias da imprensa tratavam os militares como uma ‘ala militar'”, disse.

“Desde quando o Braga Netto assume a Casa Civil muda completamente porque não existe mais uma ala. Ele tem muito mais informações do que o presidente sobre a própria vida dele, talvez. Fica muito nítido que os militares não eram só um grupo político para compor a base do governo Bolsonaro”, concluiu.

De acordo com Rodrigo Lentz, “Braga Netto cumpre uma função na chapa melhor do que o Mourão para a coesão interna das Forças armadas, principalmente o Exército”. O cientista político aponta que a decisão “promove uma imagem de que a chapa é apoiada pelas Forças Armadas, que é uma chapa das Forças Armadas, que até o governo das Forças Armadas”.

“Considerando que o Braga Netto, essa figura que tem o mapa da mina, é um ótimo representante, em uma hipótese que a gente tem trabalhado, de que as milícias cariocas sejam também um subproduto militar. Os dois que que estão presos e respondem pelo assassinato da Marielle Franco e do Anderson são militares. O assassinato da Marielle aconteceu justamente nos primeiros dias da intervenção federal. Há aí um simbolismo que envolve as milícias”, declarou.

Por Paulo Motoryn

Edição: Felipe Mendes

Publicado originalmente no site Brasil de Fato

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