Brasil está entre os focos emergentes da fome, junto com Índia e África do Sul, diz novo relatório da Oxfam

Atualizado em 8 de julho de 2021 às 13:48
Fome. Foto: Arquivo/Agência Brasil

Até 11 pessoas poderão morrer de fome e desnutrição por minuto até o fim de 2021 no mundo – número maior do que a atual taxa de mortalidade da covid-19, que é de sete por minuto – se nenhuma ação imediata for tomada para enfrentar as principais causas do problema: conflitos armados, covid-19 e crise climática.

Novo relatório da Oxfam, “O Vírus da Fome se Multiplica”, mostra que o número de pessoas vivendo em condições de fome estrutural aumentou cinco vezes desde o início da pandemia, chegando a mais de 520 mil. Revela também que mais 20 milhões de pessoas foram empurradas em 2021 a níveis extremos de insegurança alimentar, atingindo um total de 155 milhões em 55 países.

Os conflitos armados foram a maior causa de fome desde o início da pandemia e principal fator que levou quase 100 milhões de pessoas, em 23 países, a níveis de crise alimentar.

A fome também se intensificou em países de renda média como Brasil, Índia e África do Sul, que também têm sido duramente afetados pela pandemia de covid-19.

No Brasil, há quase 20 milhões de pessoas passando fome, segundo dados do Inquérito Nacional sobre Insegurança Alimentar no Contexto da Pandemia da Covid-19 no Brasil, desenvolvido pela Rede Brasileira de Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar (Rede PENSSAN), e a extrema pobreza quase triplicou, passando de 4,5% da população para 12,8%. O auxílio emergencial instituído pelo governo federal foi garantido para 38 milhões de famílias em situação de vulnerabilidade, deixando dezenas de milhões de pessoas sem uma renda minima.

“A pandemia de covid-19 escancarou as desigualdades brasileiras e trouxe essa emergência da fome a milhões de pessoas no país”, afirma Katia Maia, diretora executiva da Oxfam Brasil. “Vivemos uma situação catastrófica porque há uma negligência sem tamanho com a vida das brasileiras e brasileiros, que estão sem vacinas, sem ter o que comer, sem emprego e sem renda.”

O novo relatório da Oxfam também descreve o grande impacto que a crise econômica global, intensificada com a pandemia de coronavirus, teve sobre a vida de milhões de pessoas pelo mundo. Desemprego em alta e produção de alimentos em baixa levaram a aumentos de 40% nos preços globais da comida – o maior aumento em mais de uma década.

Apesar de todos os problemas provocados pela pandemia, o gasto militar global aumento em US$ 51 bilhões – o suficiente para cobrir em seis vezes e meia o apelo humanitário feito pela ONU para acabar com a fome no mundo. Enquanto isso, os conflitos armados e a violência provocaram o deslocamento recorde de pessoas globalmente, forçando 48 milhões de pessoas a fugirem de suas casas até o final de 2020.

Para Gabriela Bucher, diretora executiva da Oxfam, trabalhadores informais, mulheres, pessoas deslocadas e grupos marginalizados estão entre os mais atingidos pelos conflitos armados e fome.

“Mulheres e meninas estão entre as mais afetadas, frequentemente comendo por ultimo e comendo menos. Elas enfrentam escolhas impossíveis, como ter que escolher entre ir até o mercado e arriscar ser abusada física e sexualmente ou ver suas famílias ficarem com fome.”

Os governos têm que parar com os conflitos armados, que contribuem significativamente para aumentar a fome no mundo, e ajudar as agências de ajuda humanitária a alcançarem aqueles que precisam de apoio. Os países mais ricos têm que financiar imediatamente os apelos humanitários da ONU para salvar vidas. O Conselho de Segurança da ONU tem também que punir todos os países que usam a fome como arma de guerra.”

Além de um cessar-fogo global para acabar com os conflitos armados pelo mundo, a Oxfam defende a Vacina para Todas e Todos e a construção de sistemas de produção de alimentos mais justos e sustentáveis, além do apoio a programas de proteção social para as pessoas em situação de vulnerabilidade.