Brasil fora da Copa: a inacreditável hipocrisia de Galvão e Ronaldo ao falar de corrupção na CBF e no país. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 7 de julho de 2018 às 1:06
O trio calafrio

Findo o jogo em que o Brasil foi eliminado pela Bélgica, Galvão Bueno pôs-se a deblaterar sobre a corrupção na CBF.

Ladeado por Casagrande e Ronaldo, lembrou que um presidente (José Maria Marin) “foi afastado”.

“É um momento de parar pra pensar”, lamentou, rouco e abatido, ligeiramente inchado, num discurso meia sola interminável.

O Fenômeno fez um aparte.

Vivemos “um momento difícil da política no Brasil e pior ainda no futebol”, lembrou o sujeito que fez campanha para Aécio Neves em 2014.

Segundo Galvão, tem “muita coisa pra melhorar”.

“Uma vitória na Copa não melhora os problemas muito sérios do país”, acrescentou.

É inacreditável.

A Globo foi parceira de todos os bandidos da CBF, sem exceção, que cultivou e poupou até a situação deles ficar insustentável. Todos, de Havelange em diante.

Não pagou imposto pela aquisição dos direitos de transmissão do mundial de 2002.

Em 2011, a revista Piauí publicou uma longa e reveladora matéria sobre esse casamento.

Pois é

Ricardo Teixeira e a repórter Daniela Pinheiro se encontraram em Zurique dez vezes. “Só jornalista fala mal de mim”, disse o ex-presidente da Confederação Brasileira de Futebol. Não os da Globo.

Teixeira se orgulhava da emissora não repercutir denúncias contra ele. “Só vou ficar preocupado, meu amor, quando sair no Jornal Nacional”, relatou.

Daniela contava de um empresário que lhe confidenciou o receio de ser entrevistado pela Globo sobre pacotes de viagem para a Copa de 2014 vendidos com “preços estratosféricos”.

“Não vai ter isso, não: está tudo sob controle”, disse o cartola.

Daniela menciona um Globo Repórter sobre a CPI da Nike em que se deixava claro que o estilo de vida do empresário era incompatível com sua suposta renda.

Teixeira deu o troco alterando o horário de uma partida entre Brasil e Argentina.

Foi a última ocasião em que saiu uma matéria séria sobre ele e sua organização.

“Quanto mais tomo pau da Record, fico com mais crédito na Globo”, afirmou.

“Em 2014 posso fazer a maldade que for. Não dar credencial, proibir acesso, mudar horário de jogo. E sabe o que vai acontecer? Nada”.

A promiscuidade era absoluta.

De acordo com a reportagem, antes de pagar a conta no restaurante, Teixeira falou pelo telefone com Evandro Guimarães, lobista da Globo em Brasília. “Trocou ideias sobre inseminação de bovinos, uma de suas mais novas atividades”, relata Daniela Pinheiro.

A capacidade de tratar seu público como otário é o diferencial absoluto do grupo dos Marinhos. Galvão é só o papagaio da história.

Qualquer reforma verdadeira no futebol passaria por rever o conúbio entre Globo e CBF. O resto é silêncio.