Brasil ocupa espaço dos EUA após China suspender compra de soja americana

Atualizado em 7 de outubro de 2025 às 9:07
Os presidentes do Brasil e da China, Lula e Xi Jinping. Foto: Reprodução

A China interrompeu as compras de soja dos Estados Unidos, abrindo caminho para que o Brasil amplie seu domínio no maior mercado importador do mundo, conforme levantamento publicado pela American Farm Bureau Federation. Com informações do colunista Jamil Chade, do UOL.

Segundo o relatório da entidade, que representa seis milhões de agricultores americanos, o país asiático reduziu drasticamente as aquisições do grão americano em 2025, substituindo-o por soja brasileira e argentina.

De acordo com o levantamento, a China comprou 26,5 milhões de toneladas de soja americana em 2024, mas neste ano o volume despencou para 5,8 milhões de toneladas. “Durante junho, julho e agosto, os EUA praticamente não enviaram soja para a China, e a China não comprou nenhuma soja da nova safra para o próximo ano comercial”, diz o relatório.

A entidade afirma que “os mercados de soja tornaram-se o sinal mais claro de estresse no comércio agrícola dos EUA” e reconhece que, mesmo com preços competitivos, os chineses têm reduzido sua dependência dos americanos, voltando-se ao Brasil, à Argentina e a outros fornecedores.

Brasil assume a liderança

Entre janeiro e setembro deste ano, o Brasil exportou mais de 77 milhões de toneladas de soja para a China, consolidando-se como principal fornecedor do país. Segundo o relatório, “a América do Sul interveio para dominar o mercado e deslocar os agricultores americanos”.

A Argentina também tentou ampliar sua participação ao suspender temporariamente o imposto de exportação de soja, mas restabeleceu a cobrança dias depois, quando as receitas do setor atingiram US$ 7 bilhões.

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Produção de soja. Foto: Reprodução

Reação do governo Trump

O secretário do Tesouro dos EUA, Scott Bessent, afirmou que o governo de Donald Trump prepara um “apoio substancial aos nossos agricultores, especialmente aos produtores de soja”. O anúncio deve ser feito ainda nesta semana.

Em sua rede Truth Social, Trump tentou acalmar o setor: “Os produtores de soja do nosso país estão sendo prejudicados porque a China, por razões de ‘negociação’ apenas, não está comprando. Ganhamos tanto dinheiro com tarifas que vamos pegar uma pequena parte desse dinheiro e ajudar os nossos agricultores.”

Durante sua primeira guerra comercial com Pequim, em 2019, o então presidente já havia concedido US$ 22 bilhões em ajuda ao agronegócio americano.

A American Farm Bureau alerta que o problema é estrutural. “As importações de soja da China não estão diminuindo; na verdade, atingiram níveis recordes. Mas a maior parte dessa demanda agora está sendo atendida por concorrentes dos produtores americanos”, diz o relatório.

O documento também aponta que “a ampla oferta global e a demanda de exportação mais fraca estão pesando fortemente sobre os preços do milho, da soja e do trigo dos EUA, reduzindo as receitas agrícolas”. O quadro é agravado pelos baixos níveis de água no rio Mississippi, que aumentam os custos logísticos de transporte.

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O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump. Foto: Reprodução

Efeito sobre outros produtos

A mudança no fluxo comercial vai além da soja. A China não comprou milho, trigo ou sorgo dos EUA em 2025, e as exportações de carne suína e algodão também permanecem em níveis baixos.

O Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) projeta que as exportações agrícolas americanas para a China devem cair para US$ 17 bilhões em 2025, uma redução de 30% em relação a 2024 e de mais de 50% em comparação a 2022.

A previsão é ainda mais pessimista para 2026, quando as vendas podem cair para US$ 9 bilhões, o menor patamar desde 2018.

Diversificação chinesa e perda de espaço dos EUA

A entidade destaca que a diversificação de fornecedores pela China é resultado de um plano estratégico de longo prazo. Em 2012, o país comprava US$ 25 bilhões em produtos agrícolas dos EUA, quase 20% das exportações totais americanas. Em 2018, com a guerra comercial, esse número despencou para US$ 9 bilhões, e a recuperação posterior foi apenas temporária.

“Desde então, a China tem se voltado consistentemente para o Brasil e a Argentina em busca de soja, grãos e proteína”, diz a American Farm Bureau Federation. “Essa mudança faz parte de uma trajetória mais longa, na qual a China está se diversificando, afastando-se da agricultura americana.”

O resultado, conclui a entidade, é menor participação dos EUA no comércio global de grãos, um déficit agrícola crescente e incerteza sobre o futuro papel americano no abastecimento da maior economia da Ásia.