
O economista Paul Krugman, vencedor do Prêmio Nobel, afirmou que o Pix representa um modelo de sucesso para o sistema financeiro global e questionou: “O Brasil inventou o futuro do dinheiro?”.
A análise foi publicada nesta terça-feira (22) em sua coluna no Substack, na qual ele elogia a eficiência do sistema de pagamentos brasileiro e critica a postura do governo dos Estados Unidos, especialmente dos republicanos, diante das moedas digitais.
Krugman também aplaude a decisão do Brasil de levar Jair Bolsonaro (PL) à Justiça: “Eles realmente colocam ex-presidentes que tentam anular as eleições em julgamento”.
A coluna surge após os EUA anunciarem, há uma semana, uma investigação sobre o sistema de pagamentos brasileiro, o que pode gerar sanções e tarifas para o país. O texto de Krugman responde diretamente ao avanço da chamada Lei GENIUS na Câmara americana, que, segundo ele, “impulsionará o crescimento das stablecoins, abrindo caminho para futuros golpes e crises financeiras”.
O economista também criticou outro projeto aprovado que impede o Federal Reserve de sequer estudar a criação de uma moeda digital. “Por que os republicanos estão tão aterrorizados com a ideia de um CBDC que estão literalmente ordenando que o Fed pare de pensar nisso?”, questiona.
Krugman explica que os EUA já usam formas digitais de moeda pelo sistema bancário tradicional, mas que o acesso está restrito às instituições financeiras: “Por que não deveriam ser disponibilizados recursos comparáveis para pessoas físicas e empresas não financeiras?”.
Ele rebate o argumento republicano sobre invasão de privacidade, dizendo: “Se você acha que eles estão profundamente preocupados com a vigilância em potencial, tenho algumas memecoins da família Trump que você pode querer comprar”.
Para o economista, o receio verdadeiro é que um CBDC seja preferido às contas bancárias privadas e às stablecoins, criando atritos com o setor financeiro.
“Sabemos que é possível porque o Brasil já fez isso”
É nesse contexto que ele aponta o Brasil como referência: “Sabemos que é possível porque o Brasil já fez isso”. O Pix é comparado a uma “versão pública do Zelle”, mas com mais eficiência, facilidade de uso e adesão.
“O Pix se tornou simplesmente enorme, usado por 93% dos adultos brasileiros. Parece estar substituindo rapidamente dinheiro e cartões”, afirma.

Krugman cita dados do FMI para destacar que um pagamento via Pix leva 3 segundos para ser liquidado, contra 2 dias com débito e até 28 dias com crédito. Além disso, o Pix é gratuito para pessoas físicas e cobra 0,33% dos comerciantes, enquanto os cartões chegam a 2,34%:
“Não posso deixar de notar que o Pix está realmente alcançando o que os impulsionadores de criptomoedas alegaram, falsamente, ser capaz de entregar por meio do blockchain – baixos custos de transação e inclusão financeira”.
Ele também criticou o risco das criptomoedas com ironia: “Usar o Pix não cria um incentivo para sequestrar pessoas e torturá-las até que desistam de suas chaves criptográficas”. Em 2024, apenas 2% dos americanos usaram criptomoedas para pagar algo, número ínfimo diante dos 93% de brasileiros que usam o Pix.
Krugman conclui que os EUA provavelmente não terão um sistema como o Pix tão cedo, devido ao poder do lobby financeiro e à ideologia da direita. “O setor financeiro dos EUA nunca permitiria que um sistema público competisse com seus produtos – especialmente se for melhor”, diz.
“A direita americana está comprometida com a visão de que o governo é sempre o problema, nunca a solução”, completa. Para ele, outros países devem aprender com o Brasil, mas os EUA seguirão presos “por uma combinação de interesses adquiridos e fantasias criptográficas”.