
POR REYNALDO ARAGON
Estamos sentados sobre uma bomba invisível. Ela não apita, não pisca, não explode com pólvora. Mas pode desligar radares, cortar dados da Receita, bloquear satélites e derrubar sistemas de defesa com um clique remoto. E tudo isso legalmente. Isso acontece porque o Brasil terceirizou sua soberania tecnológica a empresas que não respondem aos interesses nacionais, mas sim às ordens do Departamento de Estado dos Estados Unidos e do Ministério da Defesa de Israel.
As ameaças não são teóricas. Elas estão embutidas na estrutura. Os sistemas mais críticos do país — radares, drones, centrais de vigilância, softwares militares, plataformas de inteligência, satélites e bancos de dados — estão operando sob contratos blindados com empresas estrangeiras como Raytheon, Elbit, Palantir e Amazon AWS. O Brasil não tem acesso ao código-fonte desses sistemas, não detém as chaves, não tem controle efetivo sobre suas atualizações e nem sobre os dados que eles processam. Quando os Estados Unidos ou Israel decidirem que o Brasil merece uma punição geopolítica — por apoiar a Palestina, por tentar regular as big techs ou por fortalecer os BRICS — bastará virar uma chave. Desligar. E observar o caos.
Esse cenário não é ficção científica. É o risco real que corre um país que destruiu sua indústria de defesa, sabotou sua própria engenharia, criminalizou a ciência nacional através da Lava Jato e treinou suas forças de segurança com seus próprios algozes. A Odebrecht Defense, por exemplo, que desenvolvia mísseis e sistemas de artilharia de ponta com base em tecnologia nacional e parcerias Sul-Sul, foi desmontada e vendida à israelense Elbit Systems.
A vigilância da Amazônia, através do projeto SIVAM, opera com infraestrutura da Raytheon, empresa ligada diretamente ao complexo militar dos EUA. A Receita Federal, o sistema judiciário e parte do sistema eleitoral armazenam dados em nuvens estrangeiras, sujeitas à legislação norte-americana. O Exército depende de drones e sensores importados. A Marinha utiliza torpedos com firmware criptografado desenvolvido fora do país.
Se uma ruptura diplomática acontecer, e tudo indica que ela já começou com as tarifas de Trump e as ameaças indiretas da OTAN, o Brasil poderá sofrer um colapso tecnológico silencioso, altamente coordenado e difícil de rastrear. A suspensão de uma simples atualização de radar, a paralisação de um protocolo de comunicação, ou o bloqueio de suporte técnico de um sistema de comando podem gerar efeitos devastadores em cadeia.
As Forças Armadas, treinadas com doutrinas copiadas da OTAN e do Pentágono, não têm preparo para reagir com soberania a um colapso dessa natureza. Pior do que isso, há o risco de que essas mesmas forças, ideologicamente capturadas por um projeto autoritário transnacional, atuem contra o povo ao invés de proteger o país.
E não estamos falando apenas da área da defesa. Estamos falando da máquina do Estado. Um apagão cibernético pode travar a economia, sabotar eleições, derrubar redes de comunicação, causar pânico social e abrir espaço para intervenções antidemocráticas disfarçadas de salvamento institucional. A narrativa do “caos inevitável” já está pronta e será transmitida pelas mesmas redes que financiaram e articularam os atos golpistas de janeiro. Um país colapsado por fora e desestabilizado por dentro é presa fácil para a instalação de regimes de exceção, sejam eles militares, civis ou tecnológicos.
O Brasil, neste momento, pode ser desligado. Literalmente. A soberania nacional foi colocada em standby. E quem controla os sistemas é quem decide quando e como o país continuará operando.
A única saída possível é romper urgentemente com esse modelo de dependência. É necessário reconstruir uma doutrina de defesa baseada em tecnologia nacional, inteligência autônoma e soberania informacional. Precisamos investir pesado na reestruturação da engenharia nacional, retomar projetos estratégicos, recuperar a capacidade produtiva dos nossos centros de pesquisa e blindar os dados, as redes e as infraestruturas críticas do Estado. Mais do que isso, precisamos fazer do povo o centro do projeto soberano de defesa — não como alvo de vigilância, mas como sujeito ativo de proteção nacional.
Quem controla a tecnologia, controla o país. E quem entrega seus sistemas estratégicos a empresas estrangeiras assina a própria sentença de apagão.