Brasil tem seis vezes mais casos graves de Covid-19 do que a média mundial. Por Charles Nisz

Atualizado em 9 de maio de 2020 às 20:21
Nelson Teich e as covas em tempos de coronavírus. Foto: Reprodução/Tijolaço

No Brasil, há seis vezes mais casos graves de Covid-19 do que a média mundial, quando analisamos os dados dos 10 países mais afetados pela pandemia do coronavírus. Os dados são da Universidade John Hopkins (EUA). A instituição norte-americana montou um observatório sobre a doença.

De acordo com os dados, podemos inferir como a subnotificação de casos, casos graves e mortes está alta no Brasil. A média mundial de casos graves em relação às ocorrências totais é por volta de 1% dos casos – a Espanha, um dos países mais afetados tem 0,82% de casos graves.

Já aqui no Brasil, eram 8.318 casos graves computados até as 17h da última quinta-feira (hoje esse número passou dos 10.000), segundo dados do Ministério da Saúde. O país só não tem mais casos graves que os Estados Unidos. São 6,57% dos casos totais já registrados no Brasil e 12,48% dos casos ainda ativos no país. O índice é cerca de 6 vezes maior do que a média mundial.

Até o momento, não há indícios que o coronavírus tenha sofrido uma mutação no Brasil a ponto de causar uma contaminação mais agressiva no país. É razoável supor uma subnotificação de 4 a 6 vezes no total de casos no Brasil. Assim os atuais 120 mil casos contabilizados estariam variando entre os 500 mil e 700 mil.

Por que isso acontece no Brasil? A resposta é falta de testes. O Brasil realizou apenas 400 mil testes contra 1,7 milhões de testes no Reino Unido e 2,5 milhões de testes feitos na Itália. Os dois países contam com 30 mil mortes – o que faz supor número similar aqui se mantida a proporção entre testes, casos e mortes.

Cada país achou uma estratégia para lidar com o Covid-19: a Alemanha impôs rígida quarentena, Itália, França e Espanha implantaram lockdown depois de terem permitido a manutenção do comércio, a Coreia do Sul caçou os focos de contágio. Já Estados Unidos, Reino Unido e Turquia apostaram na “imunização de rebanho” – deixar que a população se contaminasse de modo a criar anticorpos.

Essa estratégia foi alterada, depois que os casos começaram a explodir. Mas é o que defende até agora Jair Bolsonaro, sem usar o termo “imunização de rebanho”, que no país assumiria características de um verdadeiro genocídio.

Mas o que todos esses países líderes em contágio têm em comum? Alta testagem. O Brasil testa de 15 a 35 vezes menos do que outros países com alto contágio. O país ruma para uma taxa superior a 1.000 mortes ao dia num voo cego.

Na vizinha Argentina, onde foi imposta uma quarentena de fazer inveja aos europeus, há apenas 5621 casos e 293 mortes, com um índice de testagem apenas 20% superior ao nosso. Nessa briga, Fernandez ganha fácil de Bolsonaro.

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PS: Uma das razões que explicam o fracasso do Brasil no combate à pandemia foi dada hoje, quando o Brasil registrou, oficialmente, 10.627 óbitos pelo coronavírus. Passou a ser o sexto país com mais casos da doença. O mau exemplo foi dado por Jair Bolsonaro. Enquanto os presidentes da Câmara, do Senado e do STF decretaram luto oficial de três dias em suas respectivas instituições, Bolsonaro passeou de jet-sky. Todos na quarentena, e ele se divertindo. É repugnante. Veja o vídeo: