
O Brasil tem, em média, uma fábrica ilegal de bebidas interditada a cada cinco dias, de acordo com dados da Associação Brasileira de Combate à Falsificação (ABCF). Entre 2020 e 2024, o número de unidades clandestinas fechadas pelas autoridades saltou de 12 para 80. O problema ganhou destaque após oito mortes ligadas ao consumo de destilados contaminados por metanol em São Paulo e Pernambuco. A gravidade levou a Câmara dos Deputados a acelerar um projeto de lei que torna crime hediondo a adulteração de bebidas alcoólicas ou alimentos.
Segundo o “Anuário da Falsificação”, divulgado pela ABCF, só nos oito primeiros meses de 2024 foram retiradas de circulação 185 mil garrafas adulteradas. No setor de destilados, como uísque e gin, 36% do volume comercializado no Brasil é falsificado. “A única maneira de a gente dar um golpe forte no crime é combatendo a sonegação fiscal, a lavagem de dinheiro e a facilidade que o crime organizado tem para obter insumos”, afirmou Rodolpho Ramazzini, diretor da ABCF, defendendo ainda a volta de um sistema de rastreamento extinto há quase dez anos.
Um relatório do Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBSP) revela que os grupos criminosos movimentam R$ 62 bilhões por ano com a produção clandestina. Entre 2016 e 2022, o volume de bebidas ilegais dobrou, passando de 128 milhões para 256 milhões de litros. “Somos um país gigante, com muita bebida circulando e sendo consumida”, destacou Nivio Nascimento, do FBSP, lembrando que a falsificação traz problemas como intoxicação por metanol, evasão de divisas e sonegação fiscal.
As investigações recentes mostram que uísque, gin e vinho estão entre os produtos mais falsificados. Em Americana (SP), 17,7 mil garrafas foram encontradas em uma fábrica clandestina, enquanto em Barueri (SP), outras 128 mil foram lacradas por falta de documentação. A Polícia Civil também prendeu duas mulheres com 162 garrafas de uísque falsificado em Dobrada (SP) e apura a atuação de dois irmãos suspeitos de adulteração em Campo Limpo, na capital paulista.
O relatório do FBSP ainda aponta que o mercado ilegal financia o tráfico de drogas e armas, monopolizando territórios vulneráveis. Enquanto o secretário de Segurança de São Paulo, Guilherme Derrite, descarta o envolvimento do PCC, a Polícia Federal mantém a hipótese em investigação. Para a corporação, a adulteração é um dos braços do crime organizado.
Na tentativa de endurecer as punições, a Câmara aprovou a urgência de um projeto que aumenta as penas para falsificação de bebidas de até 12 anos de prisão e enquadra a prática como crime hediondo. O texto, que tramitava desde 2007, deve ir direto ao plenário.