
O governo brasileiro avalia que as recentes medidas adotadas pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, contra o Brasil podem ter como objetivo promover uma mudança de regime no país.
Segundo fontes do Planalto ouvidas nesta semana, as ações do líder de extrema-direita vão além da pressão sobre o julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, marcado para setembro no Supremo Tribunal Federal (STF). A avaliação é de que Trump busca influenciar o processo eleitoral de 2026, garantindo a presença de um candidato ideologicamente alinhado. Há também a preocupação de que, caso o presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja reeleito, os EUA questionem a legitimidade do pleito.
Para o governo, a postura americana representa uma tentativa de reafirmar a influência de Washington na América Latina. Além de defender Bolsonaro e criticar a prisão do ex-presidente colombiano Álvaro Uribe, autoridades norte-americanas se manifestaram a favor da detenção da ex-presidente argentina Cristina Kirchner.
No fim de julho, Peter Lamelas, indicado por Trump para ser embaixador na Argentina, afirmou que Cristina deveria “receber a justiça que merece” e criticou a concessão de prisão domiciliar, classificando-a como favorecimento político. Já o secretário de Estado, Marco Rubio, elogiou Uribe e acusou o Judiciário colombiano de ser manipulado por “juízes radicais”.

Para evitar isolamento regional, o governo brasileiro tem buscado estreitar relações com governos de direita na América do Sul. A visita do presidente equatoriano, Daniel Noboa, a Brasília, prevista para 18 de agosto, é considerada parte dessa estratégia de aproximação. No caso da Argentina, mesmo sem alinhamento político com o presidente Javier Milei, o Brasil mantém negociações comerciais, incluindo a compra de gás.
Com a Unasul desativada e a Celac paralisada, o Planalto aposta em fóruns como o Mercosul e a Organização do Tratado de Cooperação Amazônica (OTCA) para avançar em pautas de interesse comum, como mudanças climáticas e cooperação energética. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva também prepara conversas com líderes europeus e africanos para tratar das tarifas impostas pelos Estados Unidos.
No campo das sanções financeiras, integrantes do governo avaliam ser pouco provável que Washington adote medidas contra bancos brasileiros, por entenderem que isso poderia gerar instabilidade no sistema financeiro. O deputado Eduardo Bolsonaro tem tratado do tema com autoridades americanas, mas, segundo fontes do Planalto, qualquer ação dessa natureza é considerada arriscada devido ao potencial impacto econômico e político.