
A brasileira Marina Lacerda, conhecida nos processos como “vítima menor número um” da acusação contra o bilionário e abusador Jeffrey Epstein, afirma que Donald Trump “tem mais envolvimento no caso do que apenas e-mails”, conforme informações da Folha de S.Paulo.
Para Lacerda, a recente mudança de postura do presidente dos Estados Unidos sobre a liberação dos arquivos é uma tentativa de controlar a narrativa e reduzir a visibilidade das vítimas. Segundo ela, a pressão pública fez Trump apoiar a votação na Câmara para divulgar documentos que antes rejeitava.
Lacerda diz que a súbita defesa de transparência do presidente não é sincera: “Ele [Trump] quer silenciar a gente, e o único jeito é estar do nosso lado.” Para ela, a nova postura teria como objetivo impedir que as vítimas ganhem ainda mais espaço no debate público nos EUA e no Reino Unido.
A brasileira afirma que a relação entre Trump e Epstein “não está totalmente explicada” e que o republicano está envolvido em “mais coisas do que só e-mails”.
Ela lembra que, em 2009, Trump se mostrou disposto a ajudar a divulgar o caso, mas hoje atua na direção oposta. “Quando a pessoa esconde, a gente sabe que tem envolvimento. Tenho minhas razões para acreditar que ele está envolvido em mais coisas do que só e-mails com Epstein”, disse antes da mudança de posição do presidente estadunidense.

Pressão política e batalha pelas vítimas
A mudança de Trump ocorre após novos documentos questionarem o quanto ele sabia do esquema de exploração sexual comandado por Epstein. Democratas e parte dos republicanos defendem a divulgação integral dos arquivos, e a Câmara deve votar o tema nesta terça-feira (18). O Senado, porém, resiste. Trump prometeu sancionar o texto se for aprovado.
Apesar da mudança de posição, Lacerda diz que a luta continua: “Nós estávamos chegando perto de ter esses fatos divulgados ao público. Agora, vamos ter que brigar mais.”
Como Marina conheceu Epstein
Marina imigrou para os EUA aos oito anos e viveu uma infância marcada por abusos do padrasto. Aos 14, foi levada por uma amiga brasileira para fazer “massagem” em Epstein, sem saber o que aconteceria.
A brasileira relata manipulação psicológica, promessas de dinheiro, ajuda para permanecer no país e um ambiente cercado por fotos do abusador com autoridades e figuras públicas — incluindo o ex-presidente Bill Clinton e o ex-príncipe Andrew.
Segundo ela, Epstein alegava poder absoluto: “Ele falava que era o dono do banco, o dono do governo, o dono do presidente, que ele mandava em tudo.”
Com o tempo, foi pressionada a levar outras meninas: “Eu tinha vergonha. Como eu ia falar para elas o que eu estava fazendo lá?” Duas amigas teriam sido abusadas por três anos.
FBI, acordos e medo
Em 2008, Lacerda foi procurada pelo FBI, mas não sabia da investigação. Epstein foi condenado no mesmo ano por “contratar prostituição de menor” em um acordo controverso. Ela diz que o criminoso sexual contratou um advogado supostamente para defendê-la, mas que, na verdade, atuava para proteger Epstein. Ela assinou um documento cujo teor desconhecia e foi dispensada.
O FBI só voltou a procurá-la em 2018, quando o caso reabriu e culminou na prisão de Epstein em 2019. “Lembro de ter pensado: ‘Meu Deus do céu, isso nunca vai embora. Eu vou ter que falar com o FBI de qualquer jeito’. Dei todos os depoimentos sozinha, foi muito difícil. Fiquei com muito medo e eu nunca mais quero passar por isso”, conta.
Epstein cometeu suicídio antes de ser levado a julgamento, em agosto de 2019. Para Marina, foi um alívio não ter de encará-lo, mas também um golpe na busca por justiça: “A gente não teve justiça e até hoje estamos brigando por isso.”