Brasileiro quer Lula presidente e preso. Uma contradição que só o caráter manipulador da Folha explica. Por Joaquim de Carvalho

Atualizado em 2 de outubro de 2017 às 9:06

No sábado, a pesquisa Datafolha informa que a maioria dos brasileiros elegeria Lula presidente se as eleições fossem agora. Hoje, o mesmo instituto registra que a maioria dos brasileiros quer Lula preso agora.

É contraditório.

E por quê?

Porque pesquisas induzem respostas.

E não revelam nuances que só o debate amplo trata de definir.

Sempre me chamou a atenção um episódio que define, em boa parte, a cultura ocidental.

Está narrado na Bíblia.

No auge do julgamento de Cristo, Pôncio Pilatos pergunta à multidão:

—Quem vocês querem que eu solte: Barrabás ou Jesus, chamado Cristo?

E a multidão, que uma semana antes havia festejado a entrada de Jesus em Jerusalém, responde:

— Barrabás.

O que aconteceu depois, todos sabem.

A Folha de S. Paulo não é Pôncio Pilatos nem Lula, Cristo. Talvez se possa ver alguma semelhança de Barrabás em Temer, também protagonista da pesquisa.

Mas não é isso que importa.

A Folha, incrivelmente, destaca na manchete que caiu o apoio dos que querem Temer fora do governo: era 65%, agora é 59.

59%!

E a Folha destaca que caiu o apoio aos que querem Temer fora, não que a maioria o quer fora.

Tanto numa situação como em outra, os resultados não devem ser considerados fora da perspectiva de que pesquisas induzem conclusões apressadas.

O que parece indiscutível no episódio da pesquisa da Folha e da forma como está sendo divulgada é que, lamentavelmente, o jornal revela seu caráter de veiculo manipulador.

Não só pelo efeito que sua pesquisa produz.

Mas pela forma como é apresentada.

A primeira página destaca a foto da multidão protestando na Catalunha, com a largura da manchete: “Maioria no país quer Lula preso e Temer, processado”

Não é preciso ser especialista em semiótica para perceber que isso é proposital.

Tenta unir os dois conceitos.

Quem conhece redação sabe que os editores, ao fazerem essa escolha, devem ter dado boas risadas e acredito até que alguém tenha comentado:

— Os petistas vão ficar putos.

Ficaram.

E com razão.

Mas a Folha deveria tratar com maior responsabilidade o momento político atual.