Brasileiros mais escolarizados perderam renda e caíram na informalidade nos últimos 10 anos

Atualizado em 3 de setembro de 2023 às 20:46
Carteira de trabalho. Foto: Reprodução

Uma pesquisa do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação Getulio Vargas (Ibre-FGV), com base nos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PnadC) do IBGE, aponta que jovens e adultos que estudaram de 12 a 16 anos ou mais tiveram perda de renda mais acentuada que os menos escolarizados.

Segundo a pesquisa, os últimos dez anos foram trágicos em termos de renda e qualidade de empregos para os brasileiros que possuem mais qualificação. Isso refletiu em um abrupto aumento da informalidade entre eles, que atingiu também pessoas que estudaram de 9 a 11 anos.

De maneira geral, despencou também a vantagem, em termos de rendimentos do trabalho, de quem estudou mais de 16 anos em relação àqueles com menos de um ano na escola.

Em 2012, o retorno positivo da educação na renda desse grupo chegava a 641%. No segundo trimestre deste ano, caiu para 353%. Entre os que tinham de 12 a 15 anos de estudo, em comparação com aqueles com menos de um ano, o porcentual caiu de 193% para 102%.

Ainda segundo a pesquisa, o rendimento médio dos que estudaram de 12 a 15 anos teve uma queda de 11,2%. Para aqueles que estudaram 16 anos ou mais, a queda foi ainda mais acentuada, chegando a 16,7%.

“O ensino superior está dando menos retorno no Brasil; uma novidade muito ruim. É um claro indicador de uma economia pouco dinâmica, com empresas pouco ativas, e com outras mais produtivas que não crescem”, afirmou Fernando Veloso, um dos autores do trabalho.

Pessoa usando a calculadora. Foto: Reprodução

“Como essas empresas não evoluem por todas as mazelas que conhecemos —sistema tributário, infraestrutura, economia fechada—, o pessoal chega ao ensino superior, mas ou não tem trabalho ou o salário que esperava”, acrescentou.

Além do ambiente de negócios desfavorável, os pesquisadores destacam que o desequilíbrio nas contas públicas é um dos principais fatores a empurrar os mais escolarizados para empregos de baixa qualidade. Nos últimos oito anos, a relação entre a dívida bruta do país e o PIB (Produto Interno Bruto) saltou 17 pontos, para 74,1%.

Em média, de acordo com o Ibre-FGV, a renda dos trabalhadores (formais e informais) com 16 anos ou mais de estudo caiu, entre 2012 e 2023, de R$ 7.211 para R$ 6.008, em valores corrigidos pela inflação.

Para aqueles com 12 a 15 anos de estudo, o rendimento médio (formal e informal) também caiu de R$ 2.630 para R$ 2.336 no mesmo período. O número de trabalhadores informais nesta faixa aumentou de 10 milhões para 14,9 milhões. A taxa de informalidade saltou de 27% para 33,6%.

De 2012 a 2023, a renda do trabalho aumentou apenas para aqueles com menos escolaridade.  escolarizados. Para aqueles que não completaram um ano de estudo, os rendimentos cresceram 27,5%. Já a queda na taxa de informalidade caiu de 75,2% para 72,5%.

Entretanto, a maior parte do ganho deste segmento ocorreu a partir do começo de 2020, com a chegada da pandemia de Covid-19. Uma das explicações é que, com o isolamento social, houve valorização da mão de obra menos qualificada disposta a trabalhar naquele período.

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