
A eleição de Sanae Takaichi, ex-ministra da Segurança Econômica, para a presidência do Partido Liberal Democrático (PLD), levanta preocupações entre a comunidade de imigrantes brasileiros no Japão, especialmente devido à sua postura conservadora e nacionalista.
Takaichi, que tem chances de se tornar a primeira mulher a ocupar o cargo de primeira-ministra do Japão, tem defendido a criação de políticas mais rígidas para controlar a imigração, o que tem gerado receios, principalmente entre os imigrantes que já enfrentam dificuldades de inserção social e profissional no país.
A futura liderança dela no Japão chega em um momento delicado, em que o aumento de estrangeiros no país, impulsionado principalmente por trabalhadores e imigrantes de países asiáticos, tem gerado um debate acirrado sobre a presença de estrangeiros.
A própria parlamentar, em sua campanha, propôs a criação de um centro de comando específico para lidar com as questões relacionadas a estrangeiros, o que foi visto por muitos como uma medida xenofóbica. Ela chegou a levantar acusações não verificadas sobre turistas que, supostamente, haviam maltratado cervos no Parque de Nara, alimentando a percepção de que os estrangeiros seriam responsáveis por desrespeitar a cultura japonesa.
A ascensão de Takaichi é observada com grande apreensão por muitos brasileiros no Japão, especialmente pela comunidade imigrante que, apesar de ser uma das maiores, enfrenta discriminação no cotidiano. De acordo com dados de 2025, os brasileiros ocupam a sétima posição entre as nacionalidades estrangeiras no Japão, com aproximadamente 211 mil residentes, um número crescente, mas que ainda sofre com estigmas sociais.
Com o discurso de “Japan First”, que remete a um nacionalismo explícito, partidos como o ultranacionalista Sanseito também têm ganhado força, conquistando um número significativo de cadeiras no Parlamento japonês. Esse movimento tem atraído especialmente jovens insatisfeitos com a política tradicional, oferecendo um discurso que mistura xenofobia e populismo.

Tais discursos, apesar de não representarem a totalidade da sociedade japonesa, têm se espalhado nas redes sociais e estão afetando a convivência diária entre estrangeiros e nativos, especialmente em escolas, onde relatos de bullying contra alunos estrangeiros são cada vez mais comuns.
No entanto, o Japão enfrenta uma realidade inegável: uma população envelhecida e uma escassez de trabalhadores, especialmente em áreas essenciais como a saúde e a construção civil. Para suprir essa demanda, o governo japonês criou o visto de habilidades específicas, lançado em 2019, com o objetivo de atrair profissionais estrangeiros para áreas carentes de mão de obra.
Embora a política de imigração ainda seja restritiva, a necessidade de imigrantes qualificados é crescente, o que coloca os imigrantes em uma posição de importância no mercado de trabalho, ao mesmo tempo em que enfrentam um contexto social difícil.
Governadores e prefeitos de regiões com grande presença estrangeira também têm expressado preocupação com a rigidez das políticas migratórias, alertando para os impactos econômicos negativos. O receio é que, com a diminuição populacional em várias áreas, o Japão não consiga sustentar seu desenvolvimento econômico sem atrair e integrar estrategicamente trabalhadores estrangeiros, promovendo uma convivência mútua.
Especialistas afirmam que uma abordagem equilibrada, que respeite tanto a diversidade quanto as necessidades do mercado, é essencial para garantir o futuro do país. Organizações educacionais no Japão também se mostram preocupadas com o crescente apoio ao nacionalismo entre os jovens, especialmente no contexto escolar.
Relatos de bullying e discriminação contra alunos estrangeiros têm aumentado, o que reforça a necessidade de intervenções mais profundas nas escolas para combater esses comportamentos. Atsushi Funachi, da Associação Nacional de Pesquisa em Educação de Estrangeiros Residentes no Japão, alertou que a naturalização de slogans como “Japan First” por adultos pode fazer com que crianças e jovens reproduzam atitudes xenofóbicas.