Brasileiros rejeitam governo “made in USA” de Jair Bolsonaro

Atualizado em 27 de dezembro de 2018 às 4:59
Jair Bolsonaro presta continência à bandeira dos Estados Unidos em Miami, nos Estados Unidos / Reprodução

O Instituto Datafolha constatou o que já se intuía: a maioria dos brasileiros é contra dar preferência aos Estados Unidos na política de relações externas.

Pelos números da pesquisa, quase sete em cada dez brasileiros se opõem ao alinhamento em curso (66%), protagonizado por Jair Bolsonaro através de gestos simbólicos, como a continência à bandeira americana e ao assessor de segurança, John Bolton, e também por meio de declarações do filho do presidente eleito Eduardo Bolsonaro.

Em entrevista recente ao Valor Econômico, reafirmou que quer fazer dos Estados Unidos o principal parceiro econômico do país:

“Os EUA sempre foram o principal parceiro econômico do Brasil. Só não foram em dois momentos da nossa história. Um nos anos 1930, quando o presidente Getúlio Vargas se aproximou de Hitler, e nós tivemos a Alemanha nazista como principal parceiro comercial do Brasil. E novamente agora, por razões ideológicas, a China, que desde 2009 é a principal parceira comercial do Brasil.”

Na prática, segundo suas palavras, essa parceria iria mais longe: Bolsonaro filho defendeu a mudança da embaixada brasileira de Tel Aviv para Jerusalém, seguindo o exemplo de Donald Trump.

Também adotou uma retórica parecida com a do governo Trump em relação à Venezuela, Nicarágua e Cuba, que nunca demonstraram hostilidade ao Brasil.

A escolha do chanceler, Ernesto Araújo, também atende a esse critério de privilegiar os Estados Unidos na política de relações internacionais.

Pelas declarações que dá, Ernesto Araújo revela um alinhamento à direita mais extremada dos Estados Unidos.

A pesquisa Datafolha mostra que a família Bolsonaro, juntamente com seu chanceler, embarcará nesta aventura sem apoio da maioria dos brasileiros.

Eduardo Bolsonaro já vestiu boné de apoio à reeleição de Trump, seu pai já recebeu um extremista cubano (de direita) para conversar.

Atitudes que nem teriam o apoio da maioria dos americanos, conforme indica a última eleição americana, em que Trump perdeu a maioria na Câmara dos Deputados.

Ernesto Araújo, entusiasmado com a aproximação, chegou a dizer que o céu é o limite nas relações que pretende manter com os Estados Unidos.

A pesquisa indica que esta atitude poderá representar a abertura da porta do inferno para esse governo, que se elegeu sem que ninguém soubesse ao certo para onde iria.

Bolsonaro não participou de debates e, nas entrevistas, nunca respondeu de maneira objetiva às perguntas formuladas por jornalistas.

Mas uma parte expressiva dos brasileiros — 47 milhões votaram em Haddad — já sabia que, com Bolsonaro, o Brasil fica menor.

A pesquisa mostra que outros brasileiros já estão percebendo que, no comando da nação, está uma versão atual do comandante do Titanic.

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A pesquisa Datafolha mostra que a família Bolsonaro, juntamente com seu chanceler, embarcará nesta aventura sem apoio da maioria dos brasileiros.

O instituto ouviu 2.077 pessoas em 130 municípios do Brasil nos dias 18 e 19 de dezembro: 66% dizem discordar da ideia de privilegiar os EUA em detrimento dos demais países. A margem de erro é de dois pontos percentuais para ambas as direções.

Entre os que discordam desse alinhamento, que pode ser chamado também de submissão, a maioria são as mulheres (69%). A rejeição a essa política também é maior entre os que têm curso superior (77%) e os que ganham acima de cinco salários mínimos.

Mesmo entre os que votaram em Bolsonaro, a maioria é contra: só 35% estão de acordo com alinhamento.

Eduardo Bolsonaro foi aos EUA de bonezinho de Trump