“Breaking Bad” vai acabar — e eu não sei como lidar com isso. Preciso de ajuda

Atualizado em 2 de outubro de 2014 às 16:57

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“Breaking Bad” vai acabar — e eu não sei como lidar com isso. O último capítulo da série, uma das mais bem sucedidas da televisão americana, irá ao ar no dia 29 de setembro pela rede AMC e, se repetir a audiência do penúltimo capítulo, não terá menos do 7 milhões de telespectadores.

Estou viciado, admito. Por conta desse interesse de uma legião de fãs, o site ScreenBid está promovendo um leilão de 250 objetos utilizados na produção da série. Você pode comprar, por exemplo, a cueca branca com a qual o protagonista Walter White aparece em alguns capítulos, pela bagatela de 250 dólares. Ou então o emblemático  Pontiac Aztek, cor verde, por apenas 1000 dólares. Se preferir, estão disponíveis, por 400 dólares, os trajes de químicos utilizados por Mr. White e seu assistente aloprado, Jesse Pinkman, para fabricar metanfetamina, em seu pequeno, mas muito lucrativo, negócio.

Mas o final de “Breaking Bad” não pode ser resumido em um monte de cacarecos e objetos de memória para quem curtiu a série. É mais do que isso. “As séries de TV nunca mais serão as mesmas”, disse Charlie Collier, presidente da rede AMC, entusiasmado com o décimo EMI que Breaking Bad faturou esta semana, desta vez como “melhor série dramática”.

De fato, “Breaking Bad” é, talvez, a mais cinematográfica das séries de TV — a ponto de seu criador, Vince Gilligan, já fazer planos de levar a produção para a tela grande do cinema. Cenas fogem da mesmice, fotografia que vai do espetacular ao tenebroso, de acordo com o estado de espírito do enredo, câmara ágil e produção perfeccionista —  tudo isso produzido, sem deixar cair o nível, ao longo de mais de 50 capítulos em cinco anos de exibição.

Mas não só isso. O enredo é transformador. Séries, muitas vezes, utilizam um tema central e um ambiente para desenvolver as situações de sempre, tal como um novela: triângulos amorosos, dramas profissionais, situações críticas envolvendo acidentes, conflitos familiares — seja num passado remoto, num futuro improvável, numa ilha deserta ou num hospital.

“Breaking Bad” ousa apresentando um personagem absolutamente humano capaz de atravessar com facilidade surpreendente a fronteira da ética e da moral. Ou como escreveu o crítico Chuck Klosterman, do New York Times:  o enredo é construído na zona desconfortável entre o que é certo ou  errado e é a única séria em que os personagens têm controle total sobre suas escolhas de vida”

Walter White, professor de química, descobre seu talento para fabricar metanfetamina como uma solução financeira para prover sua família depois de sua morte, provocada pelo câncer. A certa altura ele tem a possibilidade de sair do negócio com grana suficiente bancar a vida de seus netos. Mas não desiste. “Não é pelo dinheiro, nem pelo poder. É pelo Império”, diz ele a seu sócio. O pacato professor transforma-se num vilão, capaz de matar criancinhas e enfrentar cartéis da droga.

Há um fascínio pelo personagem. Por ser um gênio da química, por expressar suas fraquezas, por conquistar poder e dinheiro. Mas, principalmente, por legitimar o sonho da libertação, realizado a qualquer custo, que existe em todos nós. “O personagem espelha nossa ansiedade pela livre-escolha, nem que seja para adotar os caminhos do mal”, escreveu o crítico Ross Douthat, também do New York Times. “Não estou em perigo, Skyler, eu sou o próprio perigo. Se baterem na porta de um homem e derem um tiro nele, vocês irão pensar que eu sou este homem? Não! Eu sou o que bate na porta”, diz à sua mulher o personagem, interpretado por  Bryan Cranston, no que considera o melhor papel da sua vida.

Por tudo isso, “Breaking Bad” emocionou tanta gente e, mais ainda, tornou-se uma referência de comportamento e de estética — e já está sendo produzida em HQ, com os melhores momentos da série. Eu não pretendo comprar a cueca de Walt. Mas não sei como ficará minha vida sem sua presença mefistofélica.

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