BRF vai paralisar atividades por queda na venda a árabes no governo Bolsonaro. Por Frédi Vasconcelos

Atualizado em 24 de abril de 2019 às 18:56
BRF. Foto: Divulgação

Publicado originalmente no site Brasil de Fato

POR FRÉDI VASCONCELOS

Por alegado excesso de estoques e baixa demanda, a direção da BRF, uma das maiores empresas brasileiras de alimentos, comunicou aos funcionários da planta de Carambeí (PR) que pretende suspender a produção por 60 dias, a partir de junho, medida que pode chegar a até cinco meses. Nesse período, os trabalhadores teriam de viver com seguro-desemprego. Se as vendas aos países árabes, principais compradores, não voltarem ao normal, cerca de 1.500 pessoas podem perder o emprego.

O secretário-geral do Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de alimentação de Carambeí e Região, Wagner do Nascimento Rodrigues, explica que 90% da produção dessa planta é vendida para o mundo árabe, com o chamado abate Halal, que segue preceitos muçulmanos.

Embora a empresa não declare os motivos do excesso de estoque, Wagner atribui à postura do governo Bolsonaro boa parte da perda de mercados. “Na minha leitura, há reflexo da política externa do atual governo, da aproximação com Israel e por ter deixado de lado a política neutra que o Brasil tinha em relação aos conflitos dos árabes”, diz.

Reflexos no Paraná 

A paralisação da unidade em Carambeí, além do risco aos empregos diretos, traz danos a toda a cadeia produtiva da região. O deputado estadual Tadeu Veneri (PT) afirma que o risco de desemprego pode ser multiplicado por três, por afetar as famílias que fornecem frangos para o abate, a maioria da agricultura familiar. “Para o Paraná foi terrível quando a BRF encerrou a planta de perus em Francisco Beltrão, 400 aviários da região foram fechados. Se parar a produção de frangos em Carambeí, muitos vão quebrar. A cadeia é integrada, não tem pra quem vender. Outro ponto que destaca é a inoperância do governo do Estado. “Até onde tenho conhecimento, há total ausência do poder público nisso, da Secretaria de Indústria e Comércio, da Agricultura, do governador etc. em resolver esse problema.”

O DCM recebeu a seguinte nota da BRF

Carambeí, 23 de abril de 2019 – A BRF informa que foi aprovada ontem (22), pelos colaboradores da unidade de Carambeí (PR), a proposta de acordo coletivo para suspensão temporária dos contratos de trabalho, conhecido como lay-off. A medida, negociada entre a empresa e o sindicato representante da categoria, entra em vigor a partir de 27 de maio de 2019 e pode durar até cinco meses.

A decisão de suspensão da produção na unidade reforça a estratégia já anunciada de manter os estoques em níveis adequados para a operação da companhia, ao mesmo tempo em que priorizará gestão da oferta para assegurar o equilíbrio do sistema produtivo.

A demanda atendida atualmente pela fábrica de Carambeí poderá ser integralmente garantida por outras unidades da BRF, sem impacto no atendimento a mercados e clientes.

A companhia ressalta que todos os termos contratuais vigentes serão honrados junto aos atuais produtores da região, que estão sendo contatados desde o dia 3 de abril para tratar dos próximos passos e sanar eventuais dúvidas. 

A BRF esclarece ainda que, neste período, as atividades administrativas, expedição, higienização, manutenção e utilidades serão mantidas na unidade.