“Brincadeira inocente” de Dalai Lama é revoltante. Por Luis Felipe Miguel

Atualizado em 12 de abril de 2023 às 12:20
Dalai Lama com criança
Foto: Reprodução

Achei revoltante, como (quase) todo mundo, a cena do Dalai Lama assediando uma criança. E igualmente revoltante o pedido de desculpas lançado depois que o escândalo eclodiu, hipócrita e evasivo, que reduz o episódio a uma “brincadeira inocente”.

Achei revoltante, mas não posso dizer que fiquei decepcionado. Não tenho nenhuma simpatia por gurus, por maior que seja o marketing em torno deles.

Na condição de alguém que nunca teve fé religiosa, tento ser cuidadoso ao falar das crenças alheias. Mas dá para dizer, com razoável segurança, que, embora de quase toda religião se possa extrair algum ensinamento bonito e alguma história edificante, o saldo das religiões organizadas, para a humanidade, é extremamente negativo.

Sobretudo quando elas adquirem poder e influência.

Os jornalistas franceses Élodie Emery e Wandrille Lanos documentaram, há alguns anos, os casos de violência sexual e corrupção na religião budista tibetana, com a permanente omissão e cumplicidade de Sua Santidade, o Dalai Lama.

Quando visitei a Tailândia, fique surpreso ao ver os privilégios de que desfrutavam os monges budistas – incluindo assentos reservados e prioridades nas filas, em pé de igualdade com idosos, gestantes ou pessoas com deficiência.

Depois li sobre a fortunas que alguns deles amealhavam, sobre a vida de luxo e ostentação sustentada pelos fiéis, digna do Apóstolo Hernandes e da Bispa Sônia.

Abusos, desvios, dirão alguns. Sim. Mas quando as exceções são tão frequentes, parece que fazem parte da regra.

(E, enquanto isso, Carla Zambelli ocupa as redes sociais para tentar provar que “o Dalai Lama é marxista”.)

Publicado originalmente no Facebook do autor

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Luís Felipe Miguel
Professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB) e coordenador do Demodê - Grupo de Pesquisa sobre Democracia e Desigualdades.