Bruno Gagliasso, Giovanna Ewbank e o privilégio branco na luta contra o racismo. Por Sacramento

O que teria acontecido se os pais das crianças fossem negros?

Atualizado em 1 de agosto de 2022 às 18:23
Giovanna Ewbank, Bruno Gagliasso e os filhos, Titi e Bless. Imagem: Reprodução,

Mais uma vez os filhos do casal Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank foram alvo de racismo. Diferente de ocorrências passadas, nas quais os irmãos Titi e Bless sofreram insultos pela internet, dessa vez a agressão foi cara a cara, com direito a reação enérgica da mãe das crianças.

O vídeo de Giovanna Ewbank colérica diante da racista, amparada pelo Bruno Gagliasso que parece preocupado apenas em defender a esposa de um possível golpe da agressora, deixa no ar a pergunta: “como seria o desfecho se os pais fossem negros”?

A pergunta é necessária. Por mais que a reação de Giovanna Ewbank tenha sido legítima, poderia ter sido bem diferente caso ela fosse uma mulher preta. Não é exagero especular que em vez da agressora, seriam as vítimas as pessoas a serem detidas pela polícia.

O próprio casal faz esta pergunta. “O que será que teria acontecido se fôssemos pretos, eu e minha mulher”, questiona Bruno. Giovanna completa: “será que iria ter essa atenção toda se fôssemos pais pretos de crianças pretas?”

No depoimento que deu ao programa Fantástico, Giovanna admite como o privilégio de ser branca foi preponderante para que a agressora fosse detida. “Acho que ela nunca esperava que uma mulher branca fosse combatê-la como eu fui daquela maneira. Sei que eu como mulher branca ao confrontá-la, a minha fala vai ser validada. Não vou sair como a louca, a raivosa, como acontece com tantas outras mães, pretas, que são leoas todos os dias, assim como eu fui neste episódio mas que são invalidadas, são taxadas como loucas”. A agressão, inclusive, foi direcionada a outras famílias negras que estavam no beach club onde o fato ocorreu.

O privilégio ao qual Bruno e Giovanna se referem não é fruto de achismo ou força de expressão. A pesquisadora Lia Vainer Schucman é autora do livro “Entre o encardido, o branco e o branquíssimo: Branquitude, hierarquia e poder na cidade de São Paulo”, resultado de sua tese de doutorado.

A partir de uma pesquisa feita junto a mais 40 pessoas brancas dos mais variados extratos sociais, de mendigos à elite econômica paulistana, a autora construiu um retrato de como opera o privilégio branco na sociedade brasileira.

O depoimento de um homem em situação de rua é emblemático. Ao responder sobre o que significa ser branco, ele responde que é poder entrar no shopping para usar o banheiro sem ser importunado pela segurança, ao contrário dos seus colegas negros, ou receber esmolas sem sequer precisar pedir.

Conforme o estudo revela, o privilégio branco está tão presente na sociedade quanto o racismo estrutural. Eventualmente, este privilégio pode ser um aliado poderoso na luta antirracista, conforme o casal Bruno Gagliasso e Giovanna Ewbank demonstrou ao defender a filha e o filho negros.