Bruno não é bom gestor, nem Boulos radical: o equivocado argumento do PSDB para se manter no poder em SP

Atualizado em 19 de novembro de 2020 às 9:37
Boulos e Covas em debate na CNN. Foto: Reprodução

No primeiro debate deste segundo turno, promovido pela CNN na noite desta segunda, 16, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, que concorre à reeleição, tentou rotular seu adversário Guilherme Boulos de inexperiente.

Em diversas oportunidades ressaltou o fato de ser prefeito e de ter sido deputado estadual e federal.

Não é o que se diz dele dentro do PSDB. Ao contrário. Internamente, Bruno é visto como ausente, inepto e até medroso.

O ex-deputado Júlio Semeghini, hoje trabalhando como assessor de Marcos Pontes, ministro da Ciência e Tecnologia de Bolsonaro, é um exemplo: abandonou a função de coordenador da administração, e inclusive se desfiliou do PSDB, por não suportar tanta bateção de cabeça e futilidade no dia-a-dia da prefeitura.

A falta de vocação para o trabalho é, inclusive, o motivo do afastamento de Bruno do governador João Doria.

Vice do gestor, no início do mandato Bruno foi nomeado secretário das Subprefeituras.

Como só viajava e o serviço não fluía, foi demitido quando estava no exterior, passeando.

Doria chegou a montar inclusive um plano para tutelar o prefeito quando tomou posse como governador do Estado. A ideia era deixar Bruno curtir a vida e montar um staff para manter a cidade em pé.

A análise que sempre se fazia no partido e entre aliados é a de que a capital, sob Bruno, seguia num ritmo lento, insosso.

No início do ano passado, para ficar num exemplo apenas, São Paulo foi devastada pelas chuvas. Para variar, onde estava o prefeito? Passeando pela Europa com o primeiro amigo Gustavo Pires.

Doria sequer se dignou a falar com o prefeito.

Mandou um recado através da secretária.

– Manda o Bruno voltar para São Paulo já. Nem um minuto a mais.

Assustado, o prefeito voltou em dois dias, não sem antes tentar vender a tese de que estava monitorando o problema via celular.

A oposição não perdoa.

“João Doria vivia do marketing. Fazia espuma e por baixo logo a gente via que não tinha nada. Bruno, nem isso é capaz de fazer”, diz o vereador Antônio Donato, reeleito pelo PT.

Veio a doença, gravíssima, e após a crise da pandemia.

Se a comunhão dessas duas coisas ajudou a tirar a atenção para o problema da ineptidão, não foi suficiente para conter o apetite dos aliados: a fragilidade obrigou Bruno a engolir como seu vice Ricardo Nunes, indicado pelo vereador Milton Leite, que é quem manda de fato na administração, com controle absoluto do Legislativo.

Nessa conjuntura nebulosa, com a pandemia, a doença que gera um sentimento de piedade na população e também a polarização política do país, passou batido por enquanto a contradição de um prefeito tido como fraco tentar se vender como alguém sério e digno de confiança.

No primeiro debate, a conversa passou, mas o candidato do PSOL não deixou de apontar os inúmeros pontos fracos da administração.

Daqui até 29 de novembro, quando os eleitores voltam às urnas, os dois se enfrentam mais oito vezes, e tem também o horário eleitoral de TV onde cada um terá tempo igual de 10 minutos.

Bruno vai tentar colar em Boulos a pecha de radical.

A questão é saber se vai funcionar, pois uma análise mais aprofundada mostra que ele erra nas duas argumentações: nem Boulos é radical, tampouco Bruno é visto como alguém experiente e trabalhador.