PUBLICADO NA RBA
POR GABRIEL VALERY E PAULO DONIZETTI DE SOUZA
“Poxa, prenderam os hackers que vazaram as mensagens que não são verdadeiras, mas que se fossem verdadeiras, não tem nada demais”, alfinetou um usuário do Twitter. Na manhã desta quarta-feira (24), a #HackerDeTaubate chegou aos trending toppics da rede social. Em pauta, fatos estranhos que rondam a história de que a Polícia Federal teria prendido “hackers” relacionados ao escândalo da Vaza Jato.
O editor-executivo do The Intercept Brasil, Leandro Demori, respondeu a provocação do ministro da Justiça, Sergio Moro que, via redes sociais, ligou a prisão de hackers à série de matérias do site. “Essa acusação de que esses supostos criminosos presos agora são nossa fonte fica por sua conta. Não surpreende vindo de quem não respeita o sistema acusatório e se acha acima do bem e do mal. Em um país sério, o investigado seria você”, disse.
Anteriormente, a rede bolsonarista – que defende a todo custo as ações ilegais do ministro Moro quando era juiz federal responsável pela Lava Jato – afirmava que as conversas obtidas pelo The Intercept Brasileram fruto de um trabalho apurado, coisa de especialista. Chegaram a cogitar envolvimento de espiões russos. Pois bem, agora prenderam “hackers” na cidade de Araraquara, interior de São Paulo. Um deles DJ, outro morando com a avó.
Eles seriam os responsáveis por quebrar o sistema de segurança do Telegram e invadir o celular de ministros e procuradores da República.
Profecia
Uma semana antes da prisão dos “hackers”, o Intercept já havia adiantado: “Diversas fontes disseram ao Intercept ao longo dos últimos dias que a Polícia Federal, durante o afastamento do ministro Sergio Moro, está considerando realizar essa semana uma operação que teria como alvo um suposto ‘hacker’ que hipoteticamente seria a fonte do arquivo. Esse suposto hacker seria estimulado a ‘confessar’ ter enviado o material ao Intercept e o adulterado”, disse o veículo, sete dias antes de a profecia se realizar.
Leandro Demori também lembrou disso hoje (24): “Muita gente está de olho nessa profecia auto-realizável que começou com notas falsas plantadas na parte podre da imprensa e pretende terminar numa grande farsa pra enganar a opinião pública. Nós temos os fatos; o que vocês têm eu não sei, mas desconfio”.
Imprensa escudo
Parte da imprensa que atua como porta-voz de Moro, como o site O Antagonista, apresenta (sempre em “primeira mão”) as novidades do ponto de vista dos envolvidos no esquema de Moro na Operação Lava Jato. Hoje, veio com a “bomba” de que hackers teriam confessado que cometeram crimes. Jornais da Rede Globo também dão amplo destaque para a suposta ligação entre criminosos e o trabalho de jornalistas.
O alvo deste sistema de criminalização do jornalismo é o premiado Glenn Greenwald, editor-chefe do Intercept, que lidera a série de reportagens da Vaza Jato. Ele acusa Moro de perseguição. O ministro já teria, inclusive, movimentado estrutura de governo para investigar o jornalista no exercício de seu trabalho, algo que a Constituição Federal proíbe.
“Sergio Moro – sendo Sergio Moro – está tentando cinicamente explorar essas prisões para lançar dúvidas sobre a autenticidade do material jornalístico. Mas a evidência que refuta sua tática é muito grande para que isso funcione para qualquer pessoa”, disse.
“Nada mudou, e nada nunca vai mudar, a montanha da evidência mostrando que a) inúmeros jornais, revistas e outras pessoas públicas verificaram a autenticidade da material publicada por nós, Folha, Veja e tantas outras e b) Moro, Deltan e LJ cometerem impropriedades graves”, completou Glenn.
O jornal O Estado de S. Paulo, habitual depositário de vazamentos seletivos da Lava Jato, também tem sua técnica jornalística ironizada por Leandro Demori: “Para o Estadão, os diálogos são ‘supostos’, mas os hackers não”, observa.
Aparências
Glenn Greenwald, ontem no Twitter, fez a pergunta que não queria calar, sobre a eficiência seletiva da estrutura policial subordinada a Sergio Moro: “Não é interessante que a PF tenha supostamente encontrado um grupo do que Moro alegou serem hackers altamente sofisticados tão rapidamente, mas ninguém consegue encontrar Queiroz?”.
Hoje, em meio às aparências de que o o estafe de Moro estaria em operação com objetivo de produzir uma contra-narrativa, a ação de “hackers” versus a conduta ilegal dos operadores da Lava Jato, Gleen listou um conjunto de evidências – manifestadas por diferentes veículos, por integrantes do MPF e até pelo ministro do Supremo Tribunal Federal (STF Luís Roberto Barroso – da veracidade dos conteúdos revelados pela Vaza Jato. No Twitter, é tamanha a invasão de usuários entre uma evidência e outra, alguns humanos outros nem tanto, que a RBA separou a sequência. Confira: