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Por Luis Felipe Miguel
Está consolidada a marca de 2 mil mortes diárias pela Covid-19 e ninguém duvida que é questão de tempo – pouco tempo – para chegar às 3 mil.
Nenhuma perspectiva de saída. Sistema de saúde em colapso por todo o país, vacinação a passo de lesma.
Custo de vida em disparada. Alta do desemprego. Pequenos negócios quebrados. Desesperança e desespero crescentes.
Bolsonaro faz o quê? O de sempre.
Bolsonaro mente. Nem vale a pena enumerar, é todo dia, toda hora.
Bolsonaro tripudia das vítimas de seu governo. (Num país normal, depois da cena em que imita uma pessoa morrendo por falta de oxigênio ele não teria condições de permanecer mais 15 minutos no cargo.)
Bolsonaro boicota os esforços de outros agentes públicos. Incentiva a desobediência às normas sanitárias. Vai ao STF para impedir que governadores e prefeitos adotem qualquer medida que possa reduzir o ritmo do contágio.
Bolsonaro ameaça. Acena com a declaração de estado de defesa, que, como resultado imediato, levará ao fim das últimas barreiras à insanidade na gestão da pandemia – e, vista de uma perspectiva um pouco mais dilatada, é o passo inicial para a instauração de uma ditadura aberta.
O Brasil convive há 710 dias com esse sociopata na Presidência da República. Há 380 dias, convivemos simultaneamente com ele e com o coronavírus. Nunca antes o país viveu um processo de destruição tão acelerado e tão devastador.
É espantoso como aguentamos tudo isso – a passividade da população, a leniência das instituições.
Mas não deveríamos mais aguentar. Cada dia a mais de Bolsonaro na presidência é uma tragédia irreparável.
Caso os detentores de recursos de poder – no Congresso, no Supremo, na burguesia, na mídia, no Exército – quisessem, seria possível encontrar um caminho para expeli-lo do cargo rapidamente.
Motivos não faltam, da ilegitimidade da eleição de 2018 aos crimes de responsabilidade cometidos dia sim, dia também. As urgências do momento justificam plenamente uma ação rápida. E não é como se uma eventual interpretação criativa fosse macular uma Constituição até agora inviolada.
O problema é que eles não querem. No frigir dos ovos, Bolsonaro e suas consequências são, para eles, um mal menor.
Em meados dos anos 1930, Palmiro Togliatti observava que muitas vezes “concentramos atenção apenas sobre a resistência que as velhas formações políticas burguesas opunham à marcha do fascismo, e nos parecia então que cada uma destas resistências teria imediatamente que se desenvolver até criar as condições de uma ‘crise política’ insuperável”.
Daí a perigosa crença de que “o fascismo está condenado a arrebentar-se por si só, em seguida à explosão espontânea das contradições internas que minam seu regime”. E a “tendência oportunista de esperar uma mudança de situação para fazer alguma coisa”.
No entanto, dizia Togliatti, “o elemento decisivo capaz de reduzir a vantagem do fascismo apenas pode ser a luta antifascista das massas”.
Creio que seu ensinamento se aplica muito bem ao Brasil de hoje.