Caiu o delegado que incomodava os Bolsonaros. Por Moisés Mendes

Atualizado em 24 de abril de 2020 às 7:45
Super intendente da policia federal no Paraná Mauricio Valeixo.

Bolsonaro mandou embora o delegado da Polícia Federal que não queria ver por perto, porque vinha incomodando a família. A exoneração de Maurício Valeixo foi publicada no Diário Oficial desta sexta-feira.

Mas Sergio Moro ainda é ministro da Justiça, porque os generais pediram que ficasse. Ficar pra quê?

A informação que mais compromete o ex-juiz até agora seria inacreditável em tempos normais. Moro teria concordado com a demissão do delegado chefe da PF desde que participe, mais adiante, da escolha do seu substituto.

É um roteiro destruidor da imagem de correção conquistada pelo ex-juiz entre a extrema direita.

O ministro concordaria em entregar a cabeça do subordinado, que coordena investigações envolvendo os filhos de Bolsonaro, para salvar a própria cabeça?

Moro teria conseguido apoio de políticos da base bolsonarista, ministros militares e torcedores do lavajatismo, para só então tomar a decisão de ficar.

O delegado vai embora, a corporação é agredida por uma decisão política de perseguição a um servidor, e o ministro fica?

É difícil de aceitar. Moro não fica. Mesmo que arranje todas as desculpas possíveis, em nome da defesa do interesse público por seus grandes serviços, não há como ficar.

Se ficar, Moro será destruído não só politicamente. Terá pulverizado sua fama de perseguidor dos maus, porque é líder dos bons ou dos homens de bem, como dizem seus seguidores.

Se ficar, o ex-juiz não conseguirá suportar por uma semana as pressões para que saia. Se permanecer, Moro terá ofendido não só a Polícia Federal, mas o serviço público.

O certo é que Moro está ficando. Pode dizer hoje que não sabia que Bolsonaro havia mantido a decisão de demitir o delegado, e que só foi informado da exoneração agora pela manhã. Se foi assim, é só pedir pra sair.

A informação da Folha é de que a demissão publicada no Diário oficial é “a pedido”, o que não quer dizer nada. Muitos são mandados embora “a pedido”.

Tem as assinaturas eletrônicas de Bolsonaro e Moro, o que é apenas uma formalidade. Moro não teria assinado o afastamento do delegado, ou seja, não há uma assinatura de fato, com papel e caneta, o que também não quer dizer nada hoje em dia, onde tudo é virtual.

Mas há suspeita de um agravante. Bolsonaro pode ter assinado a demissão, acrescentando a assinatura de Moro por conta. É possível simular, só como adereço, uma assinatura digital?

Se ficar, o ex-juiz irá virar, na definição do jornalista Kiko Nogueira, do DCM, uma Regina Duarte. Será peça decorativa do bolsonarismo.

Não há outra saída: pede pra sair, Sergio Moro. E conta tudo o que o país deve saber, em nome da transparência e da moralidade. Tente ser mais valente do que Alexandre Frota e Joice Halsemann.

E Bolsonaro? Bolsonaro entregou o governo ao general Braga Netto e passa a cuidar apenas dos interesses da família. A Polícia Federal, o Ministério Público, o Judiciário e o Congresso vão deixar?

A democracia brasileira, mesmo que capenga, vai deixar?