Calor extremo envelhece o corpo e expõe desigualdades urbanas, aponta estudo

Atualizado em 18 de outubro de 2025 às 14:36
Verão – Foto: Creative Commons Attribution-ShareAlike 3.0 – Wikipédia

Um estudo realizado em Taiwan acompanhou 25 mil pessoas ao longo de 15 anos e concluiu que as ondas de calor extremo aceleram o envelhecimento biológico humano. Cada episódio pode adicionar até nove dias à idade do organismo — e, em trabalhadores expostos ao sol diariamente, esse impacto chega a 33 dias. Os dados colocam o calor extremo no mesmo nível de risco que o tabagismo e o sedentarismo.

De acordo com o professor André Dal’Bó da Costa, da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP, o resultado evidencia a necessidade de políticas públicas específicas para enfrentar o problema. Ele ressalta que o calor ainda é tratado como um fenômeno passageiro, quando deveria ser visto como uma ameaça crônica à saúde. “O calor extremo é recente em escala global e ainda não está enraizado na agenda pública”, afirmou.

Dados do Imperial College, divulgados pelo The Guardian, reforçam a gravidade do tema: duas em cada três mortes no verão europeu de 2025 foram provocadas diretamente pelo calor. Para Dal’Bó, as medidas adotadas até agora são paliativas e não atacam as causas estruturais. Ele defende uma abordagem que combine planejamento urbano, arborização e infraestrutura verde para reduzir as ilhas de calor nas cidades.

Onda de calor

Os efeitos do calor, porém, não atingem todos de forma igual. Idosos e moradores de regiões periféricas sofrem mais com a falta de áreas verdes e ventilação. Segundo o professor, “bairros centrais têm sombra e climatização, enquanto comunidades pobres vivem em ilhas de calor onde o corpo se desgasta mais rápido”. O fenômeno, portanto, aprofunda desigualdades sociais e territoriais.

Dal’Bó argumenta que repensar as cidades é essencial para garantir saúde e qualidade de vida. Ele propõe a criação de maciços arbóreos, áreas permeáveis e maior integração entre fauna e espaços urbanos. “Cada árvore plantada deve ser vista como uma medida de saúde pública”, afirma o pesquisador, que defende uma “refundação” da relação humana com o meio ambiente.

O estudo de Taiwan reforça que o calor extremo não é apenas um desafio ambiental, mas também social. Ao acelerar o envelhecimento e aumentar a mortalidade entre os mais vulneráveis, ele transforma o planejamento urbano em uma questão de justiça. Cidades resilientes ao calor são, segundo os especialistas, o caminho para garantir que envelhecer com dignidade não seja um privilégio de poucos.