Camarotti inventa que pacote de Moro, criticado inclusive no STF, foi “bem aceito por quem entende do assunto”. Por Kiko Nogueira

Atualizado em 6 de fevereiro de 2019 às 8:23
Camarotti e o amigo Moro

Há fake news e fake news.

Gerson Camarotti investe num gênero disfarçado da compota.

Em seu comentário na CBN, deu um jeito de inventar que o pacote de Moro foi um sucesso na comunidade jurídica.

As medidas, garantiu, “foram bem recebidas por quem entende do assunto, como investigadores e juízes”.

Os malvados são os políticos: “no Congresso, entretanto, há uma bancada de investigados, e, por isso, haverá resistência”. 

Segundo o jornalista, o projeto “vai ajudar no combate à corrupção e à criminalidade como um todo” e “não tem aspecto de estelionato eleitoral”.

Enrolou para falar da barbaridade na mudança do chamado “excludente de ilicitude”, na prática uma licença para matar por parte da polícia.

Essa, de acordo com Camarotti, é uma “questão um pouco mais polêmica: criar uma regra para policiais quando em operação”. Acuma?

Com exceção das duas entidades de juízes que fazem parte do fã clube da Lava Jato e apoiam qualquer coisa vinda de seu profeta, as propostas foram amplamente criticadas.

Juristas, advogados criminalistas, OAB, procuradores, ministros do STF, especialistas — as cacetadas vieram de todos os lados, em on e em off.

A Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro distribuiu comunicado informando que “vê com preocupação as propostas de alteração legislativa anunciadas”.

Destaca negativamente “em especial” as propostas “ligadas aos Códigos Penal e de Processo Penal e à Lei de Execuções Penais”.

Um magistrado do Supremo falou à Folha de S.Paulo que é provável que todo o pacote, caso aprovado no Congresso, vá para a corte.

Ariel de Castro Alves, do Conselho Estadual de Direitos Humanos e do Grupo Tortura Nunca Mais, afirmou ao DCM que se trata de “uma verdadeira lei do abate dos jovens pobres”.

O juiz Marcelo Semer apontou que “esse rascunho do Moro é muito, muito ruim. Mal redigido, sem explicações, sem técnica. Inexplicável vindo de um ministério. Amadorismo abissal”.

Etc etc.

Camarotti seria mais honesto se admitisse que está repetindo — nas coxas — a opinião dos patrões.

Em editorial no Globo, os irmãos Marinho vendem que o presente morista “tem o rigor necessário” e “Jair Bolsonaro deu um passo certo”.

Em que direção, ninguém não faz ideia, mas Camarotti pode sempre enrolar.