Câmeras da PM de Tarcísio têm manual que ensina a apagar gravações

Atualizado em 19 de julho de 2024 às 18:02
Câmera corporal em uniforme da PM-SP. Foto: reprodução

A Motorola venceu o pregão proposto pelo governo do bolsonarista Tarcísio de Freitas (Republicanos), para fornecer as câmeras corporais para a Polícia Militar do Estado de São Paulo. Porém, a compra do equipamento é acompanhada de um manual que ensina os agentes a apagarem as imagens gravadas, o que poderia facilitar a destruição de provas permanentemente.

A informação está na seção “permissões de imagem” do documento, escrito em inglês, que afirma: “Esta permissão permite que os usuários excluam permanentemente as imagens, removendo-as imediatamente do sistema, independentemente da política de exclusão do VideoManager”. E segue: “Isso tornará as imagens irrecuperáveis”.

Procurada pela Folha, a Motorola respondeu que o manual disponível é de “um produto global” e que a “solução para o projeto da Polícia Militar do Estado de São Paulo foi customizada, não permitindo a exclusão de nenhum vídeo”. Ainda assim, a fabricante não disponibilizou o material customizado. Seis empresas apresentaram recursos pedindo a suspensão da escolha pela Motorola, alegando descumprimento de regras e possíveis fraudes no processo.

As empresas concorrentes alegam que o sistema de gerenciamento dos arquivos permite a alguns usuários apagar imagens, o que é vetado pelo edital e representa um risco para investigações dependentes desses registros. As fabricantes apontaram que o sistema da Motorola teria um botão “excluir” disponível a usuários logados como administradores e apresentaram fotos da tela mostrando o botão.

Em resposta às acusações, a Motorola classificou as alegações como “conjecturas infundadas e desesperadas”, negando que o equipamento permita a exclusão de imagens gravadas. A fabricante afirmou que o botão de “lixeira” é uma “função opcional e configurável”. Os recursos foram apresentados pelas empresas Interimagem, IPQ, Tronnix, Teletex, Teltex e BB Comércio e Instalação de Equipamentos Eletrônicos.

Imagem feita durante teste de câmeras corporais aponta botão no formato de lixeira. Foto: reprodução

A empresa explicou que o “botão de lixeira” que aparece em imagens de divulgação não estará disponível na versão entregue à Polícia Militar. Segundo a Motorola, trata-se de uma versão usada apenas em testes.

“Cabe aqui ressaltarmos que a foto apresentada pela Tronnix é a visão de um operador de sistema e, por esta razão, o ícone [de exclusão] é exibido. Porém, tal ícone de filtragem não aparece na visão do usuário administrador do sistema”, argumentou a Motorola.

Chegamos ao Blue Sky, clique neste link
Siga nossa nova conta no X, clique neste link
Participe de nosso canal no WhatsApp, clique neste link
Entre em nosso canal no Telegram, clique neste link